Organizadoras da iniciativa na Capital catarinense indicam obras lésbicas que valem a pena

Desde novembro, Florianópolis recebe encontros do Clube Lesbos, iniciativa que nasceu em São Paulo e oferece um espaço para apreciação e discussão de obras lésbicas. Amanda Melotto e Marina Barcellos, que organizam os eventos por aqui, dão dicas de livros e filmes criados por mulheres lésbicas/bissexuais e que tematizam as vivências lésbicas. 

Livros

Dicas da Amanda

Fun home: Uma tragicomédia em família

Alison Bechdel (Todavia Editora)
“Uma obra que foge do padrão do que é lembrado quando se pensa em literatura: é uma história em quadrinhos! E nesse formato, é incrível como a autora consegue se aprofundar em temas como as relações familiares e a sexualidade, além de ser uma experiência gráfica muito interessante. A obra tem tudo a ver com a ideia do Clube Lesbos e da representatividade, porque a protagonista se entende como lésbica justamente a partir da leitura de um livro!”.

Terra Molhada
Thalita Coelho (Editora Patuá) 
Foto em destaque: Micaela Torres
“Assim como a minha próxima sugestão, optei por falar de autoras locais (o que também foi uma escolha difícil, temos várias boas escritoras por aqui). São poemas que me emocionam muito e acredito que outras mulheres lésbicas/bissexuais possam se identificar. Também acho interessante para desmistificar um pouco aquele receio que se tem da poesia, o que em parte é justificável, porque os considerados “grandes poetas” são, em sua maioria, homens brancos e héteros e o que dizem não envolve o lugar que ocupamos no mundo. E a Thalita traz a poesia para esse lugar de encontro que ela tem, de conseguir expressar enfrentamentos tão comuns do que envolve amar e/ou desejar outras mulheres num mundo em que nos ensinam o contrário.”

Trilogia O Suave Tom do Abismo
Diedra Roiz (Editora Vira Letra)
“Basicamente, é um romance distópico, em que diversas personagens são lésbicas. Precisa dizer mais? Sou apaixonada por distopias e gostei muito de ler esse romance onde as personagens lésbicas estão por toda a parte, sendo guerrilheiras, ativistas, burguesas. O que eu acho mais legal é que a narrativa não fica restrita à questão da sexualidade, como normalmente acontece, mas vai além, envolvendo diversos aspectos da vida dessas mulheres. Afinal, pra citar uma personagem bem amada sapatão, a Cosima, ‘a minha sexualidade não é a coisa mais interessante sobre mim’, né? Também vale ressaltar que os livros têm representatividade bissexual e transexual.”

Dicas da Marina 

Heterossexualidade compulsória e existência lésbica & outros ensaios
Adrienne Rich (Editora Bolha)
“Essa não é uma obra de literatura, mas científica/acadêmica. Trata-se de um livro que reúne um clássico artigo feminista (presente no título da obra) junto a mais alguns ensaios da mesma autora. E ainda que esse artigo já fosse famoso antes do lançamento do livro pela Editora Bolha (que, inclusive, contou com financiamento coletivo), é muito importante esse trabalho pois agora é possível referenciar, em português, essa obra. Foi um dos primeiros artigos acadêmicos de feminismo lésbico que eu li e, talvez por isso, tenha me marcado tão profundamente. São reflexões muito bem elaboradas e apresentadas, confrontando a heteronormatividade na raiz.”

Um útero é do tamanho de um punho

Angélica Freitas (Companhia das Letras)
“Esse é um livro de poesias que já tinha sido publicado, em 2012, pela Cosac Naify. No entanto, com o fim dessa editora, os direitos foram comprados pela Companhia das Letras que lançou uma nova edição. Tenho a impressão que essa nova edição trouxe muito mais visibilidade pra essa obra – chegou a constar até na lista das leituras obrigatórias do vestibular da UFSC – mas que, ainda assim, vale a pena mencioná-la aqui. A temática em todos os poemas é a mulher e/ou o feminismo. O que mais me agrada nesse livro é a sensibilidade aliada à inteligência, que aparece em uma fala direta, às vezes irônica, sempre cheia de coragem. Destaque especial para o poema que dá o nome do livro e para o poema A mulher de vermelho.”

Lundu
Tatiana Nascimento (Padê Editorial)
“Esse é mais um livro de poesias, dessa vez escrito por uma mulher lésbica e negra. Lundu é um livro curto, mas impossível de se ler rapidamente, porque é um choque emocional. Forte. Os poemas não falam tanto sobre a experiência lésbica, mas sim sobre a experiência preta. A linguagem de Tatiana é diferente, instigando a leitora a decolonizar o pensamento a partir da leitura. Merece destaque também a própria editora Padê, cujo foco é a publicação de autoras negras”.

Filmes

Dicas da Amanda

Rafiki 

Wanuri Kahiu 
“É a história de amor entre duas garotas quenianas e dos esforços que elas fazem para conquistar seus sonhos – não somente o de amarem livremente, mas também os profissionais – com fotografia e trilha sonora impecáveis. O filme chegou a ser censurado no Quênia, onde a homossexualidade ainda é considerada crime. Apesar das cenas de violência (e fica aqui o alerta de gatilho), de modo geral é um filme muito bonito e que traz uma leveza dificilmente encontrada nos filmes com protagonistas lésbicas”.

Elisa y Marcela
Isabel Coixet 
“Disponível no Netflix, foi inspirado na história do primeiro e até agora único casamento lésbico realizado pela Igreja Católica. E isso só foi possível porque uma delas fingiu ser um homem e os padres acreditaram que estavam celebrando a união de um casal heterossexual. Filme muito bonito e sensível. Só para acrescentar, a diretora demorou dez anos até encontrar uma equipe que aceitasse tirar o seu filme do papel!”

Dicas da Marina

La belle saison (Um belo verão)
Catherine Corsini 
“O filme se passa no início da década de 70 e retrata a história de Delphine, uma mulher que deixa a casa dos pais no interior da França para estudar em Paris. Por lá, ela se envolve com o movimento feminista e conhece Carole, uma professora casada por quem se apaixona. Uma obra muito bem realizada, com atrizes renomadas e uma fotografia belíssima”.

Flores raras 
Bruno Barreto – baseado no livro Flores Raras e Banalíssimas, da escritora brasileira Carmem Lucia de Oliveira
“Esse filme é uma produção brasileira que retrata a história de amor real vivida entre a poetisa estadunidense Elizabeth Bishop e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares, representada por Glória Pires. Por se passar nos anos 50-60, o filme também perpassa a própria história do Brasil”.

Saiba mais sobre o Clube Lesbos Floripa