Brechós estão cada vez mais especializados e com curadoria apurada. Saiba o que levar em consideração na hora do garimpo

Perdi as contas de quantos brechós começaram a me seguir no Instagram nos últimos meses. Também percebi que a maioria das compras que fiz durante a quarentena foram de peças de segunda mão, com modelagens únicas, tecidos incríveis e que ficarão comigo por muito tempo. Não é um movimento individual. Muitas pessoas têm aproveitado os tempos de isolamento social para refletir sobre o nosso impacto no mundo, a importância da preservação dos recursos naturais e de prolongar a vida útil daquilo que consumimos. Nesse contexto, vale repensar hábitos e trocar aquela sensação de felicidade falsa e momentânea que sentimos quando compramos algo novo pela satisfação de saber que nossas escolhas estão de acordo com o que acreditamos, com o nosso estilo, com nossos propósitos. 

“Arrisco dizer que as pessoas estão repensando muitos hábitos, dentre eles o consumo de moda, por questões ambientais, econômicas, sociais. Acredito também que essa bagunça toda que estamos vivendo fez a gente perceber que não é só o mundo que está de cabeça para baixo, os nossos valores também. Há um esforço, mesmo que de forma inconsciente, para resgatar esses valores, ou até mesmo aprender novos. Essa abertura para ressignificar o velho e aprender o novo está tendo um impacto muito positivo em vários sentidos. Não dá para dizer que é o “lado bom” da pandemia, mas ouso dizer que são as transformações que estamos vivendo nesse período e que irão nos orientar daqui para frente”, opina Karine Padilha, criadora do projeto Armário Cápsula Brasil e dona do Dona Mira Brechó, de Florianópolis.

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De acordo com relatório de inteligência do Sebrae sobre o mercado de segunda mão, o número de empresas que trabalhavam com esses produtos teve crescimento de 22,2% entre 2013 e 2015. Já os brechós cresceram 210% entre 2010 e 2015. De fato, é só dar uma busca rápida pelas redes sociais para encontrar brechós de diferentes estilos, muitos com uma curadoria impecável e peças disputadas que são vendidas logo nos primeiros minutos após a publicação. São negócios que dão um empurrãozinho em quem tem vontade de começar a consumir essas peças, mas não tem paciência para ficar horas garimpando em brechós abarrotados ou bazares. 

“Curadoria é tudo no brechó, é a identidade, a essência do seu negócio. A curadoria tem que ser minuciosa, temos que estar de olho em todos os detalhes, as peças precisam estar em perfeito estado de conservação, limpas, passadas, cheirosas, sem avarias, assim o seu cliente vai estar sempre feliz com o garimpo que ele acabou de adquirir”, concordam Joice dos Santos Pozza e Yohanna Fernanda Machado, do Recoletta Brechó, de Florianópolis.

Além dos cuidados com as peças à venda, muitos brechós apresentam uma identidade muito bem definida. Tem para todos os estilos. No Maricotice, por exemplo, que tem loja online e física no Centro da Capital catarinense, todo o espaço e as redes sociais transportam o público para os anos 90, uma década de grande memória afetiva para a proprietária e curadora Juliane Dario. 

“A loja conta com vários itens de decor da época, papéis de carta, disquetes, fitas cassetes, pelúcias, etc. Também levo essa pegada para as redes sociais, que é a minha maior vitrine”, conta Juliane.

maricotice
Maricotice

Já o Dona Mira aposta em peças básicas, minimalistas, de alfaiataria, clássicas e em tons neutros. É possível reconhecer essa proposta por meio das produções das fotos da loja virtual e do Instagram, que seguem a mesma estética clean.

“A meu ver, a curadoria é a assinatura de cada brechó – assim como a criação é a assinatura de cada estilista”, completa Karine.

Donas de brechós de Florianópolis dão dicas para quem quer começar a consumir mais peças de segunda mão

“Para quem quer começar a comprar em brechós online, é importante sempre analisar a procedência do brechó, principalmente os feedbacks dos clientes referente a envios e qualidade das peças! E a dica para quem quer ir garimpar em lugares específicos é chegar cedo, levar sua própria ecobag, e escolher as peças pelo tecido, estampa e corte!”

Isadora Porto – Dora Garimpeira

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A mistura de vintage e contemporâneo do Breshó

“Minha primeira dica é: sempre enxergar potencial além do óbvio! O trabalho dos brechós online ainda é amador em alguns aspectos, então nem sempre a peça é valorizada pelas fotos (muitas lojas não tiram fotos produzidas, no corpo, ou as imagens são de má qualidade). A próxima dica: veja bem as descrições sobre avarias para não se decepcionar caso receba uma peça que não está 100%, pois muitas vezes a imagem não é suficiente para capturar o estado da peça. Mas também lembre-se sempre que são peças previamente amadas. Tire suas dúvidas antes de comprar e compre de quem você confia e tem feedbacks.”

Josy Pasetti – Breshó

“Não julgue uma peça logo de primeira! A maioria das pessoas está acostumada a ir em shoppings, onde as peças pertencem a uma marca e coleção que seguem um conceito e estética. Isso ajuda demais no processo do produto chegar até você e você querer comprá-lo (e, de fato, comprar), mas isso infelizmente não acontece nos brechós então mantenha a cabeça aberta! Se for possível, prove as peças e dê uma segunda chance. Lembre-se também que quase todas as peças atuais são releituras de modelagens e formatos de outras épocas, então por que não reutilizar o que já está no mercado?”

Júlia Staedele – Sei Lá Brechó

“Para escolher peças legais eu sugiro levar sempre em consideração alguns fatores: história da peça, tecido, estampas, modelagem, exclusividade. Uma brechozeira adora olhar para as peças e encher elas de significado, e também adora garimpar peças que tenham histórias. As roupas evocam memórias, ao mesmo tempo que permitem que novas memórias sejam atribuídas a elas. Isso é mágico. Garimpo certeiro é garimpo com história.

O tecido também é algo que vale se atentar na hora de garimpar. Existem tecidos raríssimos nos brechós, com preço justo. Um exemplo é o linho Perolin/Braspérola, considerado um dos melhores da América Latina na década de 90, hoje já não mais produzido, além da lã virgem, a cashmere. Já a modelagem, bem como as estampas, também são fatores que ajudam na hora de fazer um garimpo bem feito. Muitas peças, principalmente as datadas das década de 60/70/80, têm modelagens ou estampas muito características dessas épocas. Não são mais encontradas nos dias de hoje e por esse motivo dão um certo ar de exclusividade para a peça. E vale prestar atenção nas etiquetas. Etiquetas CGC indicam que a peça é real vintage. Também indicam autenticidade e permitem que você saiba a procedência do seu garimpo (país, ano de fabricação, número de série, etc).”

Karine Padilha – Dona Mira Brechó

Foto em destaque: Dona Mira Brechó