Diretora Loli Menezes fala sobre o filme, que será exibido nesta quarta-feira (27)

Em Selma Depois da Chuva, novo curta da Vinil Filmes, Selma é uma mulher trans que construiu sua vida afastada da família. Um dia, ela recebe um chamado para ir ao encontro da mãe idosa, que sofre de Alzheimer e precisa de tratamento. Nesse encontro, perdidas entre memórias confusas, as duas mulheres lembram dores e desejos esquecidos, e revisitam culpas e afetos perdidos. O filme, com direção de Loli Menezes e roteiro de Renato Turnes, terá pré-estreia nacional em Florianópolis nesta quarta-feira (27), às 20h, no cinema do CIC. A entrada é gratuita.

Filmado em junho de 2018, no Sul da Ilha, o curta é estrelado por Selma Light e Amélia Bittencourt, que interpretam filha e mãe, respectivamente. Transexualidade e velhice são temas centrais, assim como tolerância e aceitação. Apesar de não ser um filme biográfico, a atriz e apresentadora Selma Light, considerada um ícone para a população LGBTI da Capital, empresta seu nome e parte de suas histórias para a personagem.

“Na época, o Renato estava trabalhando num projeto de teatro com a Selma e fez várias entrevistas com ela. O roteiro é inspirado um pouco nisso e em memórias do Renato com sua mãe, que também teve Alzheimer”, explica Loli Menezes.

O projeto de Selma Depois da Chuva ficou em primeiro lugar no edital Carmem Santos, do MINC, que premia diretoras mulheres – por isso, Loli fez questão de criar uma equipe técnica composta majoritariamente por mulheres.

“Eu queria honrar o prêmio e trabalhar com o maior número de mulheres possível. Não foi difícil, pois temos mulheres ocupando todas as funções no audiovisual, inclusive a chefe de maquinária, que sempre foi uma função mais atribuída aos homens. A eles, ficaram as funções de assistência”, conta a diretora.

A diretora também relembra que os curtas que dirigiu ao longo da carreira se conectam pelas personagens femininas que, de alguma maneira, estão em busca de liberdade, de identidade, ou procuram sair de alguma espécie de repressão ou de padrão a que foram submetidas. Seu último curta é G, de 2008, que também tem roteiro de Turnes e que conta a história de uma mulher que, ao completar 30 anos, percebe que não tem panelas.

“Em 2008 eu estava também estava completando 30 anos. Nessa época as panelas tinham um outro significado (risos) e nessa história uma mulher livre, que trabalha com arte e cultura, enfrenta uma pressão interna, porém social, na qual uma mulher de 30 anos deve ter panelas, casar, ter filhos, constituir um ‘lar’. O filme questiona isso e faz um certo acordo, onde é possível conciliar essas coisas – ser profissional e ter panelas. Hoje, olhando de fora, percebo que eu estava falando de mim mesma, pois sou artista, sou mulher, tenho panelas, sou casada, sou mãe, sou tudo isso sem perder minha liberdade e minha identidade”, conta a diretora.

Desde a estreia de G, Loli se tornou mãe e ficou dez anos sem dirigir ficção, dedicando-se a projetos de documentário voltados às expressões artísticas e culturais na Vinil Filmes, que fundou junto com o companheiro Marco Martins e amigos e na qual já executou diversas funções, como produção executiva, coordenação de produção, direção, direção de arte e figurinos, dependendo do projeto. Agora aos 40, a diretora conta que tem outras preocupações e ansiedades que não são mais sobre ter ou não ter panelas, casar ou não casar, ter ou não ter filhos:

“Minha urgência é outra, quero questionar o mundo que me rodeia, quero quebrar preconceitos, reforçar direitos e lutar por uma sociedade mais justa e menos hipócrita. E por tudo isso, esse roteiro me impactou, me apaixonei na hora por essas mulheres e quis muito contar a história delas”, defende.

Pré-estreia de Selma Depois da Chuva

Quando: quarta-feira (27), às 20h
Onde: cinema do CIC – Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica, Florianópolis
Quanto: entrada gratuita