DJ e produtor destaca os desafios de fazer eventos gratuitos em espaços públicos e o atual momento do projeto

Há oito anos, o DJ e produtor Allen Rosa criou uma festa gratuita e ao ar livre para curtir um Drum and Bass com os amigos porque o gênero não tinha espaço nos eventos que rolavam na Ilha. Hoje, o Sounds in da City abraça também outros estilos e é o projeto de música e ocupação de espaços públicos mais importante de Florianópolis. Além disso, tem a cara da cidade – seja na Beira-Mar Norte, no Largo da Alfândega ou em outro local, a festa reúne good vibes, som animado e um visual lindo.

Neste domingo (4), o Sounds inicia as comemorações do aniversário de oito anos com uma festa no Festival Subtropikal. O rolê começa às 16h no Square Lab, espaço anexo ao Museu da Escola Catarinense, no Centro, e vai ter participação do duo Selvagem, de São Paulo. Aproveitei para bater um papo com o Allen sobre os desafios de fazer eventos gratuitos em espaços públicos e o atual momento do projeto.

Como que você decidiu criar o Sounds?

Foi uma necessidade. Na época eu tocava um estilo musical que não era bem aceito nos eventos tradicionais que aconteciam na cidade. Sentia falta de espaço e me sentia um pouco frustrado por não poder me expressar. Dessa forma, ir pra rua acabou sendo uma saída. A ideia no começo era se reunir com os amigos e apresentar o Drum and Bass para as pessoas. Com o tempo outras idéias foram surgindo, os objetivos mudando e o projeto se lapidando.

Edição no Largo da Alfândega. Fotos: Masiero e Lara Decker (destaque)

As primeiras festas eram semanais e sempre na Beira-Mar Norte. Como era no começo e que dificuldades teve?

Por dois anos e meio, o projeto aconteceu todos os domingos. No início foi de forma ilegal, até que seis meses depois tivemos o primeiro conflito com a polícia. A partir daí, descobrimos toda a burocracia envolvida na utilização do espaço público. A cada edição foram surgindo mais obstáculos e o processo burocrático foi se tornando mais complexo.

E como tá o Sounds hoje?

Apesar da organização, ainda continua muito difícil, também pela questão burocrática. Não que seja impossível de fazer, mas é um evento alternativo sem recursos e sem uma equipe, não é fácil ter força para atender todos os requisitos que são solicitados. É bastante desgastante o processo de se realizar um evento gratuito no espaço público.

Há umas duas semanas, você fez um post desabafo no qual dizia que andava meio desanimado com a falta de colaboração do público e com esse desgaste do processo burocrático. Em relação ao público, o que você quis dizer?

Acho que boa parte do público que já conhece o projeto colabora, mas ainda tem muita gente que participa que não. O lixo é um dos problemas que temos ao realizar os eventos na rua, mesmo utilizando os copos retornáveis muita gente leva coisa de casa e não recolhe as embalagens. Muitas vezes, no fim dos eventos, eu mesmo, DJs e amigos recolhemos o lixo que fica.

Outra dificuldade é que nós dependemos apenas do lucro obtido com o consumo do chope para financiar a estrutura do evento. Ninguém é obrigado a consumir no bar, mas dependemos dessa colaboração, mesmo que parcial. Se chegar num ponto em que ninguém consuma no bar, será impossível o evento acontecer. É com esse dinheiro que pagamos os banheiros químicos, ambulância, empresa de segurança, som, atrações, taxas e alvarás. Os custos são altos e os riscos também. Além disso, o esforço físico e mental têm sido cada vez maiores, já não tenho mais a energia de antes e tenho ficado um pouco desanimado. O ideal seria ter patrocínio ou recurso público, e também um apoio maior da Prefeitura com as autorizações.

Quais foram os melhores momentos para você nesses oito anos?

Todos os momentos foram especiais. Alguns foram críticos, mas no geral sempre positivos.  A última edição (que rolou em julho no Largo da Alfândega), apesar de quase ter dado prejuízo, foi muito legal. Foi gratificante receber o DJ ESA (África do Sul) e ver o público utilizando o espaço de forma pacífica, se libertando e interagindo através da música.

Allen Rosa e Antonela Giampietro na Beira-Mar Norte. Foto: Jean Pisicchio

Há vários projetos que produzem festas em locais públicos como atos políticos. O Sounds não nasceu com essa proposta, apesar de ter um papel fundamental na ocupação desses locais. Qual a importância de continuar na rua, principalmente nesse momento que estamos vivendo na política?

Acho que agora é que as coisas devem continuar rolando, porém acho que vamos esbarrar ainda mais na limitação burocrática. Acredito que o governo vai cada vez dificultar mais. Cultura não é prioridade e foge do interesse do poder público. A vontade que dá é de voltar a fazer as ocupações de forma ilegal, mas pela proporção que o projeto tem hoje é difícil fazer sem estrutura, além de ser impossível arriscar investir em tudo para depois chegar a polícia e acabar com o evento.

Além do Sounds, que outros projetos você tá tocando?

Tem a Fresh, voltada mais para disco e house que tem rolado no Armazém Vieira; a Fever, focada no dancehall e que costuma ocorrer no DeRaiz, além das edições noturnas do Sounds in da City.  A ideia é que as edições noturnas também se mantenham com uma proposta democrática e mais acessível. 

Sounds in da City com Selvagem
Quando
: domingo (4), às 16h
Onde: Square Lab – Rua Saldanha Marinho, 196, Centro, Florianópolis
Quanto: entrada gratuita