Celebração será neste sábado (6), com festa no Bar do Deca, em Florianópolis
Nesses tempos obscuros e com clima de insegurança, o rolê se fortalece e segue como uma das principais formas de resistir à opressão e ao conservadorismo que atinge as pessoas LGBTIs. Nem que seja pelo simples fato de proporcionar um espaço seguro para sermos quem somos durante uma madrugada. É no que acredita o yasss e também Alessandro Calve, co-fundador da Bateu, festa de música eletrônica de Florianópolis que tem uma proposta totalmente inclusiva e voltada para esse público e outras minorias.
“Dando espaço, fortalecendo a comunidade LGBTI e buscando sermos mais inclusivos, nós estamos dando força para quem naturalmente sempre foi reprimido pela sociedade e pelo Estado. Vemos que quem tem um lugar para extravasar e se expressar livremente, mesmo que num espaço de festa, se torna mais forte para enfrentar o dia-a-dia de forma mais digna”, defende Alessandro, que criou a Bateu junto com Arthur Erpen, o Kosmo.
Neste sábado, a Bateu comemora três anos de existência (e resistência) no Bar do Deca, na Praia Mole, local que já recebeu outras edições da festa itinerante cuja música e outras manifestações artísticas são importantes, mas não é só isso. Enquanto alguns lugares muito falam e pouco fazem, usando um discurso acolhedor quando o público nem sempre é bem recebido, a Bateu vem se destacando mesmo pela atmosfera de inclusão. Entre as medidas tomadas para garantir a segurança e o bem-estar de quem a frequenta estão a proibição de fotografar ou filmar durante a festa e entrada somente com nome na lista ou ingresso adquirido previamente – ou seja, vai quem já conhece e está alinhado com a proposta.
Para Natália Gomes Bergmann, estudante de letras/inglês na UFSC e bartender do Blues Velvet, o fato de se sentir completamente segura e à vontade fez com que ela criasse um forte vínculo com a festa desde a primeira edição que frequentou, no verão de 2017, no Rancho do Pescador. Antes disso, ela não costumava ouvir música eletrônica e era mais do rolê do rock e da música instrumental.
“Me surpreendi com a diversidade de pessoas e estilos. Foi a primeira vez que fui numa festa sem nenhum problema ou preocupação, tudo foi muito lindo e fluido, fiquei bem surpresa. Não conhecia quase ninguém, mas me senti entre amigos. Nunca vi uma festa assim. Tem bom senso, educação e respeito. É emocionante. Lá todo mundo é igual, e é por isso que a gente luta diariamente. Não dá vontade de ir embora, fico sempre esperando a próxima edição. Parece que ela é a realização de tudo aquilo que a gente espera que o mundo seja”, conta Natália.
Em relação à música, a Bateu abraça diversos estilos, como o house, o electro, o techno e outros, com um som mais underground e espaço para que os DJs mostrem seu trabalho autoral. A cada edição, a festa tem um tema e, ao invés da cobertura fotográfica, faz um editorial com artistas locais. Para a edição dos 3 anos, por exemplo, Fabi Cenci (Noizzed) fotografou um grupo de amigos, parceiros e frequentadores da Bateu – ela também é residente da festa.

“A Bateu é única porque as pessoas se preparam vários dias antes para a festa, e chegando lá a vibe de libertação e comunidade é como em nenhuma outra. Nela você pode ser você mesmo e exercer sua sexualidade do jeito que quiser com a certeza que não vai ser julgado por isso. Por fim, eu me sinto transportado àquelas raves de resistência dos anos 90 que eu só vi em vídeos e tanto admiro”, diz Ighor Augusto Duarte, estudante de marketing e produtor de eventos, idealizador do projeto Deafcity Collab.
Ele estava lá na primeira edição da Bateu e pôde acompanhar a evolução da festa nos últimos três anos. Para ele, a edição mais memorável foi a Bateu o Canto Hipnótico da Sereia, primeira realizada no Rancho do Pescador, em novembro de 2016.
“Foi um momento onde as pessoas começaram a se montar mais para a festa e se jogar muito mais. Todo mundo sentiu de fato a hipnose da sereia (no caso, a sereia era a Érica Alves cantando no seu live set). Outro momento inesquecível foi quando o Kosmo encerrou o set dele com um mashup de I wanna dance with somebody da Whitney Houston com Numbers do Kraftwerk, as pessoas cantando a plenos pulmões e o sol nascente refletindo no mar são uma imagem que nunca vou me esquecer”, relembra.

Se depois de um relato desses ainda não deu vontade de ir nessa festa, dá uma olhada nos destaques da edição de 3 anos:
A grande estreia é a Chroma, que há tempos desperta a atenção da organização. Residente do Blues Velvet, ela assina a curadoria de várias noites por lá e na Bateu vai fechar a pista antes do amanhecer. Toca também Alef the boy, que já tocou numa edição menor da Bateu em uma das ocupações no MArquE, Museu de Arqueologia e Etnologia da UFSC. Desta vez, ele vai ser responsável por abrir a pista do after pela manhã. E tem ainda Rafael Moura, que tocou na primeira edição, no Bar do Jonas.
Entre os artistas visuais que performam estão Yoko_Mizú, que é performer residente desde os tempos do Rancho e hoje colabora com a curadoria artística da festa. Quem foi na última edição deve lembrar do show de pirotecnia na beira da Praia Mole realizado por Airam, que também volta a performar neste sábado, além da House of Sorceress, um grupo de dança vogue que já agitou a pista em outras ocasiões. O début da noite fica por conta da Franco, que vai fazer sua primeira performance solo na festa.
Quando: sábado (6), a partir das 23h
Onde: Bar do Deca – Rod. Jorn. Manoel de Menezes, s/n, Praia Mole, Florianópolis
Quanto: R$ 30 via EventBrite, ou R$ 35 na hora somente com nome na lista