Busca por produtos locais, sustentáveis e com propósito impulsiona surgimento de marcas de cerâmica em Florianópolis

Basta frequentar feiras de produtores locais e espaços colaborativos ou fazer uma rápida pesquisa no Instagram para conhecer o trabalho de diversos ceramistas locais. O recente surgimento de novas marcas, focadas em produtos utilitários, acessórios ou decoração, chama a atenção para um movimento de redescoberta da cerâmica, encabeçado, principalmente, por mulheres. 

Há algumas possíveis explicações para esta nova tendência. Para os consumidores, destaca-se a onda do consumo consciente e do movimento Compre de Quem Faz, que na última década acendeu o alerta para a importância de incentivar o sustentável e o local. 

“Há um fenômeno interessante que acontece em diversos espectros da sociedade e principalmente no da Geração Y,  que é a necessidade de um consumo menos agressivo, de um resgate histórico de técnicas e materiais, de conexão com o produtor e de acumular experiências. Isso faz com que essa geração privilegie o valor e não o preço de um objeto, isso os afasta do consumo tradicional e os aproxima de mercados alternativos, como o da cerâmica artesanal. Ao mesmo tempo precisamos entender que esses aspectos são apenas bolhas sociais, não vejo isso como um movimento mundial”, acredita Andrei, do Frida Não Late.

Em relação aos ceramistas, também está relacionado com uma busca por ofícios que façam algum sentido na vida, que tragam mais conexão e propósito:

“O contato das mãos com a terra nos coloca no eixo, nos ensina a ter paciência e a sermos mais resilientes”, pensa Juliana Silver, da Silver.

Juliana Silver. Foto: Vini Simas

Já para Maria Paula Vieira, da Matilda, é preciso valorizar o saber artesanal e preservar essa origem, sem cair na tentação de aderir a ferramentas que acelerem o tempo natural do processo.

“Acredito que esse movimento tenha a ver com uma saturação do modelo industrial e da cultura de consumo do capitalismo. No entanto, também considero um movimento complexo e por vezes controverso. Preocupo-me com apropriações culturais, uma armadilha na qual a prática e o consumo da cerâmica estão descolados do respeito pela sua história, pelo seu tempo e pelos processos tão singulares. Tenho observado um movimento de aceleração do processo artesanal, inclusive com o desenvolvimento de diversas tecnologias com essa finalidade”, diz a ceramista.

Na Capital catarinense, espaços como a Faferia também ajudaram a dar um empurrãozinho nesse movimento, com cursos, comercialização de ferramentas, argilas e esmaltes, serviço de queima, entre outros. E em tempos digitais, a busca por saberes artesanais é um atrativo para quem busca desconexão e estar presente.

“Trabalhar com a cerâmica é aprender a ter respeito pelo tempo, a argila te disciplina muito nesse quesito. É diferente do tempo da Internet e do corre do mundo atual. São tantas etapas e processos e é preciso estar ali, presente de corpo e alma”, defende Mary Yamakawa, do A.terra Estúdio.

Para quem gosta do assunto, o yasss conta a história de 9 profissionais locais. Clique para saber mais sobre os ceramistas em Florianópolis que valem a pena conhecer.

Foto em destaque: peças da Matilda, por Carolina Arruda