Realizado na cozinha da casa do músico Álvaro Fausane, idealizador do projeto, Choro Xadrez ocorre (quase) todas as quartas-feiras

Não tem nada mais lindo que morar em uma cidade há mais de 15 anos e ainda descobrir coisas novas (imagina que chato conhecer tudo!). Mas, às vezes, a gente descobre coisas e pensa: como eu não soube disso antes? É o caso do Choro Xadrez, projeto musical que ocorre desde 2011 em uma cozinha de chão xadrez no Rio Tavares, no Sul da Ilha, mas que eu só visitei no início deste ano.

É um projeto de Álvaro Fausane, natural de São José dos Campos, que desde 2005 mora em Floripa, onde veio para estudar geografia e acabou se profissionalizando na música. Por aqui, chegou a participar de alguns grupos, como Molho Madeira, Flor de Bambu, Couro de Gato, além do projeto Nosso Samba. Frequentava as poucas rodas de choro que havia na cidade e tinha vontade de tocar o gênero.

“Eu frequentava uma roda na Lagoa, mas era um local muito barulhento, e comecei a brincar que queria fazer uma roda onde fosse possível ouvir, de fato, a música. Começou na minha casa, quando eu morava na Fortaleza da Barra, e logo me mudei para a casa no Rio Tavares onde até hoje é o Choro Xadrez. Na época, o local abrigava uma república e havia um estudante de geografia que era muito bom na cozinha, o Japa. Eu queria fazer a roda, ele pilhou de fazer pastéis, eu chamei os músicos e começamos a fazer. Assim surgiu o Choro Xadrez, em 2011, bem na cozinha mesmo, onde é até hoje”, relembra.

Foto: divulgação

O endereço é enviado por Whatsapp para quem comprar os ingressos antecipadamente. Logo na entrada, a placa que recepciona as pessoas já avisa: converse ao pé do ouvido, área de prioridade musical. Vez ou outra, tem que rolar um “shhhh”, mas no geral o público respeita e evita falar alto. Há uma área externa, onde são vendidos vinhos em taça, chopp e pizzas, e a cozinha onde os músicos sentam em roda e se apresentam. A decoração é uma atração à parte: tem quadros, artesanato, um violão pendurado que virou uma pequena estante, um urso panda de pelúcia e um pano de prato pendurado – afinal, estamos mesmo em uma cozinha.

Hoje, moram ali Álvaro, a companheira Carol, que é percussionista e pandeirista da roda, o flautista Pedro e o pizzaiolo Freitas. No dia do choro, a cozinha é transformada, mas nos outros dias é usada normalmente pelos moradores. Geralmente, depois da quarta-feira de cinzas, há mudanças na decoração – troca de obras, novos itens. Vai tudo sendo construído aos poucos.

“Essa cozinha tem um poder meio mágico – costumamos dizer que tudo que desejamos aqui se realiza”, diz Álvaro.

Álvaro Fausane, ao fundo. Foto: divulgação

Inicialmente, o projeto rolava nas segundas-feiras. Depois, foi para quarta, que continua sendo o dia oficial. Apesar disso, não há muita regra e o ideal é confirmar pelo perfil do projeto se haverá roda naquela semana. Há os músicos parceiros de longa data, que costumam aparecer sempre, mas quem quiser tocar pode ir.

“Se a pessoa sabe a linguagem do choro pode vir e tocar. A gente incentiva isso, é uma roda bem grande, gostamos muito disso, da troca. O repertório é o mesmo, de maneira geral, assim como o ritual da roda de choro, que é o mesmo em qualquer lugar. É sempre um grande aprendizado para todo mundo, a mesma música vai ser diferente a cada vez. E isso é uma das coisas mais deliciosas de uma roda de choro”, defende.

No dia de choro, o repertório é quase todo de choro – ou seja, instrumental. Mas para quem gosta de samba, há o Bailinho Xadrez, onde há espaço para cantar, dançar, as cadeiras da cozinha são tiradas para criar uma pista e, além do choro, tem também samba e forró. O Bailinho costuma ocorrer de uma a duas vezes por mês, também com divulgação pelo Instagram.

Por conta dos vizinhos, já que fica em uma área residencial, o combinado é claro: vai até às 23h, e nada de fazer barulho na saída. Em 2023, a novidade é a gravação de um CD autoral – o projeto foi contemplado no edital Elisabete Anderle.

“A gente acredita na música, na arte, em fazer com amor, com vontade. Não tem como dar errado”, finaliza.

Acompanhe pelo @choroxadrez e mais informações sobre ingressos pelo (48) 99668-8946