Apresentações serão nos dias 26 e 27 de março, no Teatro Ademir Rosa, no CIC
Nos últimos anos, Deborah Colker dedicou seu tempo a buscar uma cura. No caso, uma solução para a doença genética que seu neto tem, a epidermólise bolhosa. Dessa angústia pessoal nasceu o novo trabalho da Cia. Deborah Colker, Cura, um espetáculo que vai além do aspecto autobiográfico. A coreógrafa volta a Florianópolis com o mais recente trabalho nos dias 26 e 27 de março, sábado e domingo, às 21h e às 19h, no Teatro Ademir Rosa, no CIC.
A coreógrafa concebeu o projeto em 2017, mas foi no ano seguinte, com a morte de Stephen Hawking, que encontrou o conceito. Embora acometido por uma doença degenerativa, a ELA (Esclerose lateral amiotrófica), o cientista britânico viveu até os 76 anos e se tornou um dos nomes mais importantes da história da física. Deborah percebeu que há outras formas de cura além das que a medicina possibilita.
“Quando foi diagnosticado, os médicos deram a Hawking três anos de vida. Ele viveu mais 50, criativos e iluminados. Entendi o que é a cura do que não tem cura”, conta.
A estreia aconteceria em Londres em 2020, mas a pandemia não permitiu. O adiamento deu ao espetáculo mais um ano de pesquisas, transformações e reflexões.
“A pandemia me fez ter certeza de que não era apenas da doença física que eu queria falar. A cura que eu quero não se dá com vacina” afirma.
Há dores mostradas no palco, mas há esperança no final. Ela diz que procurou preservar a alegria necessária à vida. Um ingrediente para isso foi a semana que passou em Moçambique durante a preparação, quando conheceu pessoas que não perdiam a vontade de viver, apesar das muitas dificuldades. Deborah incorporou ao espetáculo referências das três religiões monoteístas e elementos de culturas africanas, indígenas e orientais. Logo no início, conta-se a história de Obaluaê, orixá das doenças e das curas. Numa cerimônia realizada quando da morte do seu pai, Deborah conheceu o rabino Nilton Bonder, autor de “A alma imoral” e muitos outros livros. Ao planejar Cura, decidiu convidá-lo para desenvolver a dramaturgia. Dentre tantas contribuições, ele ressaltou que “pedir é curar”, ideia que gerou uma cena. Também apontou que “a grande cura é a morte”, o que motivou uma coreografia com dois bailarinos dançando ao som de “You want it darker”, de Leonard Cohen.
“O espetáculo apresenta todos os recursos imunitários e humanitários em aliança pela cura. A ciência, a fé, a solidariedade e a ancestralidade são o coquetel de cura do que não tem cura. Concebido antes desta pandemia, o título não é um “conceito”, mas um grito!”, afirma Bonder.

Carlinhos Brown foi convidado, inicialmente, para compor apenas o tema de Obaluê. Acabou criando praticamente toda a trilha, inclusive a canção inicial, dos versos “Traga meu sorriso para dentro” e “Sou mais forte do que a minha dor”.
“A música veio na minha cabeça logo depois da primeira conversa com Deborah. Eu pensei: ‘Isso é um chamado, não é uma trilha normal’. É um trabalho muito mais profundo do que ‘Carlinhos está fazendo uma trilha'”, diz o músico.
Ele canta em português, iorubá e até em aramaico. Os 11 bailarinos também cantam, em hebraico e em línguas africanas. É algo que acontece pela primeira vez nos 27 anos de história da companhia. Fundador da companhia ao lado de Deborah, o diretor executivo João Elias vê em Cura um passo ainda maior que o dado pela coreógrafa no trabalho anterior, “Cão sem plumas” (2017), baseado no poema de João Cabral de Melo Neto.
“Quando começou a coreografar, Deborah era mais abstrata, formal. Depois, passou a contar histórias, aprimorar dramaturgias. “Cão sem plumas” já era um espetáculo visceral, emocionante. Cura é ainda mais, mostra um grande amadurecimento”, analisa ele.
Companheiro de Deborah em toda a trajetória, o cenógrafo e diretor de arte Gringo Cardia assina as duas rampas que dão aos movimentos dos bailarinos a sensação de desequilíbrio. E está nas caixas que, entre várias funções, formam um muro.
Nos figurinos de Claudia Kopke – que esteve em “Cão sem plumas” – as pernas podem ter estilos bem diferentes, traduzindo o desequilíbrio que é um dos nortes do espetáculo. O iluminador Maneco Quinderé, que só havia trabalhado com a companhia em “Vulcão” (1994), também criou uma luz fragmentada, como sugerem as ideias de Cura. O final tem brilho, indicando renascimento.
Cura em Florianópolis
Quando: 26 e 27 de março, às 21h e às 19h respectivamente
Onde: Teatro Ademir Rosa, no CIC
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