Peças criadas por Natália Bergmann propõem debate sobre vida útil dos produtos

Na hora de pensar o look para mais uma edição da festa Bateu, Natália Bergmann decidiu ir com um visual cyberpunk e criou um brinco com uma antena de radinho de pilha. E aí nasceu a Distópika, marca de Florianópolis de acessórios feitos com lixo eletrônico, às vezes misturado com cristais e outros elementos naturais. 

“Pensei em um look com um conceito cyberpunk, que é um movimento literário e cinematográfico que trata de um futuro distópico – daí o nome da marca – com dominação das máquinas e sistema opressor. O movimento tem a máxima ‘high tech, low life’, alta tecnologia e baixa qualidade de vida. Para a festa, fiz o brinco e a galera pirou, perguntaram se eu tinha mais, se tinha como encomendar”, relembra a artista.

Deste então, Natália tem coletado aparelhos eletrônicos que seriam descartados para reutilizar suas peças – placas de circuito, leitores de CD, DVD, cabos, fios, telas, bobinas de cobre, placas de memória e outros elementos que às vezes nem ela sabe o que são, mas que resultam em peças incríveis. Mas a experiência com artesanato e acessórios é antiga – antes de trabalhar com esse tipo de material ela tinha outra marca, a Pedraria Art.

“Em algumas peças eu misturo cristais, como na antiga marca, e crio um contraste legal entre natureza e o avanço tecnológico. Tem sido as peças que mais fazem sucesso. Utilizo o conceito de upcycling, que faz parte de toda a ideia da reciclagem, de aproveitar materiais que seriam descartados, mas vai além. Traz uma ideia de ressignificação. Você pega uma coisa X que viraria lixo e transforma numa coisa Y, completamente diferente, de valor e utilização diferentes”.

Quem tiver objetos eletrônicos em casa também pode colaborar doando-os para Natália. Uma das propostas da Distópika é levantar o debate sobre a vida útil das coisas e como as pessoas podem reutilizá-las de maneiras diferentes antes de jogá-las no lixo. 

“O lixo eletrônico é um problema emergente. A tecnologia avança muito rápido, as coisas novas em pouco tempo são substituídas por coisas mais modernas. E a maior parte das pessoas não sabe que esse descarte deve ser feito separadamente em pontos de coleta. Minha primeira ideia tinha sido passar num ponto de coleta e pedir algumas peças, mas depois pensei que não fazia sentido nenhum tirar essas coisas de um local que já faz essa reciclagem. Eu não estaria fazendo diferença nenhuma. Dessa forma eu abro o diálogo e consigo ensinar várias coisas e aprender outras. Já aprendi muito sobre eletrônica, química, reciclagem”, explica Natália. 

Fotos: Arquivo pessoal

Para comprar, dá para entrar em contato pelo Instagram da marca ou ficar de olho em eventos, feiras e festas que a Distópika participa. Neste sábado, por exemplo, Natália vai expor suas peças na No Hay Armario, no Blues Velvet. Também é possível encontrar alguns produtos na Innk, na Lagoa da Conceição, loja em que ela trabalha que tem algumas peças expostas. Os valores são acessíveis e variam de R$ 10 a R$ 50.

“Não tenho alto custo de produção, já que não pago nada pela minha principal matéria-prima. Resolvi deixar os valores mais acessíveis. Claro que o trabalho do artista tem que ser valorizado, mas acho que tem coisas que a gente tem que repensar. Se você só pensa no lucro você acaba se tornando parte de um sistema que você quer criticar. Além de todas essas coisas, busco levantar a ideia de um comércio mais justo”, finaliza.