Telas propõem uma reflexão sobre o universal a partir do cotidiano pesqueiro de Garopaba

Reinaugurado há pouco, o Espaço Cultural BRDE Governador Celso Ramos, que fica na Hercílio Luz, em Florianópolis, recebe até o dia 7 de outubro a exposição “Redes do Invisível”, do artista visual, professor e produtor cultural Fabrício Garcia. A mostra, com curadoria de Marcello Carpes, reúne pinturas óleo sobre tela que retratam peixes e mãos que trabalham duro no manejo da pesca e no preparo do alimento. As 11 telas propõem uma reflexão sobre o universal a partir do local: o universo pesqueiro de Garopaba, litoral sul de Santa Catarina. As obras revelam uma intimidade afetiva, aspectos do cotidiano familiar e da cidade, mas há ainda uma reflexão sobre o espírito do tempo, o lugar físico e o simbólico, ritmo e repetição, a percepção da própria subjetividade e sobre o humano.

Mais do que enaltecer práticas e hábitos comportamentais de indivíduos que vivem diante do mar, em zona pesqueira, o conceito curatorial estabelece um diálogo entre o tempo e a memória. De acordo com o curador Marcello Carpes, é possível trilhar um caminho a partir do não visto, as obras têm força suficiente para instaurar uma rede de sentidos com amplo público. Para ele, Fabrício Garcia impregna suas telas de referências visuais para muito além da ideia cristalizada da cultura litorânea.

redes do invisível
Obra Amor de Mãe

O tema, em sua primeira camada, exerce de imediato um referencial aos habitantes ilhéus e/ou litorâneos. Por sugestão, Carpes recomenda um distanciamento no que diz respeito ao visível. Com um olhar contemporâneo, o artista traz para o visível as memórias, os afetos e as pessoas que praticam o mar, com toda sua beleza e força visceral.

As mãos são um símbolo forte na compreensão do artista, que produziu as pinturas no isolamento social. Pelos gestos, Fabrício cria os meios de fazer ver o que não aparece, as percepções acentuadas na pandemia e que cada vez mais contagiam as questões artísticas e conceituais dos trabalhos. Os peixes estão mortos, alguns esquartejados, cheios de sangue. Uma mosca na tela “A Quarentena” (em destaque), por exemplo, sinaliza a angústia sobre um tempo que “obrigou a refletir sobre o estar aqui, olhar a própria realidade e perceber que as minúcias é que transformam o cotidiano e o ser”, diz Fabrício. Como se vê, o visitante desta mostra, se sensível, perceberá que nesta produção artística há muito mais do que apenas tainhas, olhos-de-boi, palombetas e sororocas.

Neto de pescador, morador de Garopaba, o artista potencializa os atributos artísticos com um forte engajamento comunitário. Além de retratar a paisagem e cenas sobretudo da região do centro histórico onde vive com a família, ele coloca a sua arte e crença em favor do desenvolvimento cultural da cidade – é dele o projeto Encontro de Pintura ao Ar Livre, por exemplo.

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