Para o Dia da Visibilidade Lésbica, celebrado em 29 de agosto (e todos os outros dias), o Yasss traz uma lista de filmes e séries que abordam o universo lésbico, sugeridos pela cineasta Letícia Marques. Vale conferir:

Retrato de uma jovem em chamas

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Direção: Celine Sciamma

Celine Sciamma é a primeira mulher (e lésbica) a receber o prêmio de melhor direção no Queer Palm em Cannes em 2019 – ela também leva melhor roteiro no festival. O filme é um romance que se passa na França no século XVIII e conta a história de amor entre uma aristocrata e a pintora comicionada a pintar o seu retrato. O retrato de Heloise logo se torna um ato colaborativo e uma prova do amor entre as duas.

O filme é uma obra-prima, ao meu ver é o primeiro filme lésbico-queer mais radical na sua forma. Simplesmente é de uma maestria cada cena, todas elas pensadas através do que é este olhar feminino, de um feminismo que você não quer que o filme acabe. Deixo aqui uma das incríveis falas da diretora:

“Eu estava obcecada em construir uma história com igualdade, e se tornou ainda mais radical no processo. Não haveria nenhuma dominação de gênero, claro, porque são duas mulheres, mas também não uma dominação intelectual, e nenhuma hierarquia social.  Todo o filme é sobre equidade e como quando você olha alguém e este também está te olhando. Então todo esse processo de reinventar a figura da musa, e dizer que não há musa.  Onde só há colaboradoras e mulheres se inspirando de uma forma mútua. A tensão sobre o olhar é o plot da história do filme, então você pode ver como um manifesto sobre o olhar feminino. Pensar sobre representação é também pensar como você vai construir novos direitos, novas sensações, novas emoções. É isso que eu quero o público experiencie.”

Eu sinceramente  fico feliz de viver em um tempo que existe uma diretora com ela. O filme está disponível para aluguel e compra no Itunes e Youtube.

Lovesong

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Direção: So Yong Kim

Sara se vê cuidando da filha sozinha em seu casamento e decide sair em viagem com uma amiga da época de colégio, Mindy. Na viagem as duas se aproximam e descobrem que existe um real sentimento de amor.  Três anos depois, as duas se reencontram para o casamento de Mindy. Lovesong é um filme sobre o amor entre duas amigas, que se dá em dois momentos de encontro entre as duas. A diretora constrói um filme cheio de camadas de emoções, onde as atuações de Riley Keough e Jena Malone são carregadas de uma intensidade única. A cumplicidade entre as duas é construída muito pelos olhares, as longas sequências e trilha sonora fazem do filme um belo trabalho sobre a percepção do amor.

Vale dizer que algumas pessoas podem não se satisfazer com o final. Eu gostaria de escrever uma continuação (uma do meu universo lésbico), mas o filme vale cada segundo.  O filme está disponível na Netflix.

Go Fish

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Direção: Rose Troche

Os anos 90 foram os anos dos filmes com temática lésbica. Rose Troche e Guinevere Turner assinam o roteiro deste filme ficcional, mas que beira o experimental e até documental. Elas comentam que estavam cansadas de ver repetidamente as cenas de Desert Hearts (filme com temática lésbica de 1985) nos bares em Chicago e resolvem fazer um filme sobre a cena lésbica na qual se encontravam.

O filme é sobre Max e sua tentativa de encontrar o amor, com a ajuda de suas amigas lésbicas. Definitivamente é o primeiro filme lésbico onde o ser lésbica se torna presente em todo o filme.

The Watermelon Woman

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Direção: Cheryl Dunye

Cheryl Dunye é  a personagem principal deste filme que busca a inserção da mulher negra lésbica na história, ao mesmo tempo em que a narrativa sai em busca da identidade lésbica negra na história do cinema. Ela trabalha em uma locadora e decide fazer um filme sobre a mulher que está creditada em um filme como “the watermelon woman”. O filme é considerado um marco no New Queer Cinema e é o primeiro a ser dirigido por uma mulher lésbica negra nos Estados Unidos.

Corações do Deserto

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Direção: Donna Deisch

Em 1985, foi lançado um dos primeiros filmes que apresentava um romance lésbico. É uma adaptação do livro Desert of the Heart, de Jane Rule (1964). A narrativa se constrói em volta de uma professora de inglês, Vivian Bell, que viaja até Reno, Nevada, para conseguir um divórcio de forma rápida. Na fazenda onde se hospeda ela conhece Cay Rivers.

Este é considerado o primeiro filme a retratar uma relação de amor entre duas mulheres para o público de lésbicas, no qual podemos ver que o amor é possível e realizável através da personagem Cay, que nos afirma o tempo todo seu protagonismo lésbico. O filme está disponível para compra na Amazon.

O Mau Exemplo de Cameron Post

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Direção: Desiree Akhavan

Segundo filme da diretora brilhante Desiree Akhavan. No primeiro, Appropriate Behaviour, ela já explora a temática da lesbianidade e bisexualidade com seu sagaz humor, mas é neste filme que ela explora na narrativa a vida de uma jovem lésbica que é enviada a um centro de conversão após seu suposto namorado encontrar ela e uma amiga juntas na noite de formatura. A jovem é interpretada por Chloe Grace Moretz (e só por isso já vale ver o filme), e acompanhamos ela navegar em seus dias neste centro, suas novas amizades e a percepção dela das reais consequências da repressão a sexualidade. Um drama muito crítico a este tipo de prática de conversão, mas que termina com uma sequência final com um leve respiro e liberdade.

 O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome de Emily M. Danforth (2012), e está disponível para aluguel na plataforma do Youtube.

Itty Bitty Titty Committee

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Direção: Jamie Babitt

O filme é uma comédia lésbica que acompanha a vida de Ana, uma garota lésbica que trabalha em uma clínica de cirurgia plástica. Numa noite ela conhece Sadie, que rapidamente a apresenta ao coletivo feminista CIA – Clits in Action, ou Clitóris em Ação. Ana passa a se envolver com o grupo em ações de guerrilha artística e enquanto o ativismo acontece ela se apaixona por Sadie.

Este é provavelmente o filme que mais contratou lésbicas fora das telas. No elenco há Clea Duvall, Daniela Sea, Guinevere Turner. A trilha sonora tem bandas como Team Dresch, a banda do homocore norte-americano mais cheio de letras de música de amor sapatão e lesbiano. Pra quem não conhece, fica a sugestão. O filme também mergulha nos sons de Heavens to Betsy, Bikini Kill e Le Tigre. É um filme lésbico feminista repleto de amor, ativismo político, arte de guerrilha e cheio de humor – a diretora Jambie Babitt nos lembra que somos lésbicas e temos senso de humor. Aha!

Betty

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Criação e direção: Crystal Moselle

Série televisiva produzida pela HBO, inspirada e baseada no filme Skate Kitchen (2018, também dirigido pela Crystal Moselle), e que acompanha a vida de jovens adolescentes skatistas na cidade Nova Iorque. A série, nos episódios finais, nos revela que Ash é atraída por garotas e ela passa a se relacionar com uma outra garota skatista. A diretora brevemente explora o fato de Ash vir de uma família conservadora e com isso ela tem dificuldade em se relacionar com a sua sexualidade, momentos que provavelmente serão melhores explorados e desenvolvidos na segunda temporada. A composição da mise en scene é repleta de feminismo e empoderamento feminino, especificamente quando vemos várias garotas skatistas tomando as ruas de Nova Iorque em cima dos seus skates, com trilha sonora e movimentos de slow motion.

Transparent

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2ª temporada episódio 03
Criação e roteiro: Jill (Joey) Soloway
Direção: Marielle Heller

Transparent é uma série que primeiramente apresenta um pai de família saindo do armário como transgênero aos 75 anos de idade, mas a narrativa não é só sobre transgeneridade e o tema da transformação é permeado em todas as temporadas. Desde o início a “transness” de Maura impacta a vida de todes da família. Uma das personagens é Ali, que na penúltima temporada se identifica como não-binária (Ari), mas até ela chegar lá, a segunda temporada tem um sabor e um forte aroma lesbiânico. Inclusive, a abertura da primeira para a segunda temporada se modifica um pouco, e na segunda vemos casais de mulheres se beijando em tempos bem remotos e uma parada de lésbicas.

No terceiro episódio a identidade lésbica e o amor lésbico transparecem carregados de uma força, afirmadas através de um poema que Ali lê enquanto vemos vários casais de lésbicas e mulheres em um boliche. E na cena ainda ouvimos “se não fosse o patriarcado”. É provável que até hoje essa tenha sido a série televisiva mais transgressora em termos de berrar na cara do patriarcado e mostrar aqueles corpos lésbicos celebrando e  sendo livres. E Ali, claro, sai dando um beijo na amiga Syd, que tem uma crush por ela desde sempre.  Pra mim, ver duas figuras como Gaby Hoffmann (que era a minha referência na pré-adolescência com o filme Agora e Sempre) e Carrie Brownstein (os solos de guitarra de Sleater-Kinney e a série Portlandia) é simplesmente de uma genialidade que só a Joey Soloway conseguiria enquadrar.

Vale citar que o poema que Ali lê é de uma personagem professora na  universidade de Los Angeles que é lésbica, e acompanhamos um pouco essa personagem nos episódios seguinte da série. Transparent está disponível na plataforma da Amazon.

Outros trabalhos das diretoras que também valem a pena acompanhar:

Cheryl Dune dirigiu episódios da série Queen Sugar, criada por Ava Duvernay. Rose Troche é a produtora executiva de The L Word. Celine Sciamma dirigiu três filmes que fazem parte de uma certa triologia sobre o amadurecimento das protagonistas: Water Lilles, Tomboy e Girlhood.

Jamie Babitt também dirige o filme Nunca fui Santa (But I’m a Cheerleader) e episódios de The L Word. Desire Akhavan cria e dirige a série The Bisexual. Crystal Moselle é diretora de Skate Kitchen (vale cada segundo esse filme). E Joey Soloway produz a série A Sete Palmos e United States of Tara.

Outras sugestões que valem para essa nossa alongada pandemia:

Na Netflix: o documentário Secreto e Proibido.
Filmes das últimas décadas: Melhor que Chocolate, Desejo Proibido, High Art, Nunca fui Santa, Fire, Rafiki, All Over Me, Booksmart, Princess Syd, Pariah, 2 Garotas in Love, Um Belo Verão. Water Lillies e Tomboy.

No fone de ouvido:

As bandas Lovers e LaLaLa.

Por Letícia Marques