Galeria Mínima tem curadoria de Bruna Granucci e receberá uma obra de um artista por vez. Quem estreia é Sandro Clemes

Um espaço expositivo localizado em uma espécie de prisma de pouco mais de um metro quadrado, em frente a um bar de uma das ruas mais movimentadas da noite de Floripa. É a Galeria Mínima, uma galeria muito pequena (mesmo!) que fica junto ao Ponto. Bar & Piadina, na Victor Meirelles, abre nesta quinta-feira (26) e propõe um olhar atento para a produção artística contemporânea catarinense, com espaço para uma obra de um artista por vez. Quem estreia é a exposição Títere, de Sandro Clemes, uma foto-instalação com um trabalho concebido especificamente para a Mínima e que é um desdobramento de uma pesquisa artística que vem acontecendo desde 2019 acerca de possíveis relações entre solidão, memória e morte. Além de ser o artista a inaugurar a galeria, o também arquiteto desenhou todo o projeto técnico.

A ideia é da artista visual e curadora Bruna Granucci:

“Um dia, o Caio (Cezar, fotógrafo e sócio do Ponto. Bar & Piadina) me convidou para trazer um trabalho naquela vitrinezinha. Eu estava terminando uma obra chamada ‘Sedia’, uma cadeira de feixes de mato seco e algodão, e levei para lá. Coloquei um QRcode que levava para o meu Instagram de trabalho e tive um retorno muito bacana, mensagens de pessoas muito diversas que viram a cadeira lá no bar e me escreveram para contar as impressões delas. Aí eu pensei: é isso, essa vitrine pode ser uma galeria de arte muito pequena, mas muito potente”, relembra.

A proposta foi abraçada pelo sócio do Ponto. e as exposições devem durar dois meses cada. Segundo Bruna, a curadoria será feita de forma bastante informal, o que ela chama de “convite curado”.

“É um olhar atento e cuidadoso, meu e do Caio, para o trabalho dos artistas que estão produzindo na cidade, mas também no Estado e em outras partes do Brasil. Como eu, muitos artistas da cidade frequentam o bar, e esta mistura entre a vida da pessoa e o trabalho dela, para mim, é fabulosa. O gênio, ator e dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa dizia que quem trabalha com arte precisa de ócio, precisa tomar um bom vinho e se sentir beijado pela vida. É um pouco como entendo a proposta da Mínima, é uma galeria marginal, despretensiosa e deslocada dos moldes de uma galeria tradicional”, diz.

Bruna Granucci

A Mínima nasce dois anos depois da inauguração do bar, que preencheu a lacuna deixada pelo fechamento do Tralharia, reúne artistas, jornalistas e agitadores culturais de todos os tipos, além de ter uma programação de eventos como lançamentos de livros, exibição de curtas, entre outros encontros. Recentemente, o Ponto. aumentou a carta de drinques (agora tem Manhattan, Cosmopolitan, Espresso Martini, Rabo de Galo e muitos outros, além dos autorais Jamburinha e Madeirinha). As já famosas piadinas também mudaram para melhor, com mais recheio e opção vegana com os queijos de castanhas da Folha.

“Agora quero consolidar a Galeria Mínima, que funciona na vitrine triangular do bar. Tô adorando fazer isso em parceria com a Bruna Granucci e com o suporte da cervejaria Stannis, que tá apoiando o projeto. Foram dois anos bem movimentados e malucos, principalmente no início, quando eu não tinha nenhuma noção sobre como tocar um bar, mas já sabia o que eu queria que o Ponto fosse: um bar delicado, com música gostosa, copos de vidro, comida tostada e luz suave. E acho que, entre erros e acertos, foi isso que o bar se tornou. E que, se depender de mim, vai continuar sendo”, finaliza Caio.

Sobre Títere

A fotografia que é parte da instalação integra um ensaio foto-performático com mais 14 imagens que pretendem investigar a dualidade do conceito de pulsão de morte enunciado nos escritos de Freud, posteriormente revistos por Lacan. Este conceito apresenta a contradição, o conflito e a negatividade como fundantes da linguagem, do ser e do desejo. A pulsão de morte tende a reduzir, fragmentar, separar e retornar ao nada. Nesta imagem-objeto, um corpo com cabeça cúbica, pretensamente racional, percebe-se conduzido, tal como uma marionete, pelo amor ao objeto inapreensível, o amor ao completamento fugaz e à petit mort do prazer sexual, o amor pela plenitude do fim.

“Eu estive na exposição do Sandro Clemes em março, no Memorial Meyer Filho, curada pela Kamilla Nunes. A exposição reunia trabalhos dos últimos cinco anos de pesquisa e produção dele. Um trabalho me chamou muito a atenção, era uma flâmula em tecido preto com letras brancas, com um trecho do hino nacional, fiquei pensando que aquele trabalho conversaria com a rua, se ocupasse a vitrine da galeria, que até aquele momento nem existia. Convidei o Sandro para um café e fiz o convite para que ele fosse o primeiro artista a ocupar a Galeria Mínima. Nesse tempo pude conhecer um pouco mais da sua pesquisa artística, então chegamos a outro trabalho, o Títere”, comenta Bruna.

Acompanhe a programação pelo @galeriaminima

Foto em destaque: Caio, Bruna e Sandro/Divulgação