Primavera traz sequência de peças musicais de Paulo Tatit e Sandra Peres – a dupla Palavra Cantada – especialmente selecionadas e adaptadas para a companhia. Na dobradinha, o impactante Gira, com trilha do Metá Metá

Tempos extraordinários pedem novos olhares. O Grupo Corpo volta à cena no diapasão da renovação e da delicadeza com Primavera, coreografia inédita de Rodrigo Pederneiras sobre música da dupla Palavra Cantada, com 14 de suas canções adaptadas para uma trilha instrumental. O espetáculo estará em Florianópolis, no Teatro Ademir Rosa, no CIC, nos dias 19 e 20 de abril, às 21h. A noite segue com Gira, de 2017, de movimentos inspirados na umbanda, com a trilha poderosa do Metá Metá. 

“Estávamos presos nas nossas casas”, conta Rodrigo Pederneiras, “sem poder ensaiar, reunir o grupo, programar um espetáculo, projetar uma temporada, com os bailarinos fazendo aulas remotas”. Havia, claro, o horizonte das lives pelas plataformas digitais; e, nos últimos 18 meses, o grupo veio liberando gravações de balés e fazendo diversos eventos nas plataformas digitais, para o público. Nesse viés, em dezembro de 2020, começou a nascer a ideia de criar peças curtas, montar novas coreografias para a internet. E foi bem nesse ponto que uma conversa casual pelo Whatsapp alinhou, num tedioso domingo à noite, o coreógrafo mineiro e o compositor Paulo Tatit, conhecidos de longa data.

“Surgiu a ideia de selecionarmos e adaptarmos os playbacks da Palavra Cantada. Enviamos, Sandra e eu, dezenas de playbacks dos nossos 27 anos de carreira. Rodrigo selecionou 14 deles – compostas e gravadas entre 1999 e 2017 -e começamos a trabalhar”, diz o compositor.

O projeto que nascera em forma de peças curtas e independentes para a internet ganhou unidade – foi virando um conjunto. Com as adaptações, a remixagem e alguns acréscimos, a trilha emergiu – e seu conjunto encadeia uma gama de estilos musicais às vezes bem contrastantes, indo de um jazz light à percussão afro, em seus 36 minutos de duração. “Construímos um balé completamente diferente, singular, com a música de alta qualidade da Palavra Cantada”, define Rodrigo.

Gira. Fotos de José Luiz Pederneiras

Já em Gira, os ritos da umbanda – a mais cultuada das religiões nascidas no Brasil, resultado da fusão do candomblé com o catolicismo e o kardecismo – são a grande fonte de inspiração da estética cênica. Exu, o mais humano dos orixás – sem o qual, nas religiões de matriz africana, o culto simplesmente não funciona – é o motivo poético que guia os onze temas musicais criados pelo Metá Metá para Gira.

Mergulhar no universo das religiões afro-brasileiras para se alinhar ao tema proposto pelo Metá Metá foram as primeiras providências dos criadores do Grupo Corpo, e Rodrigo Pederneiras (re)constrói o poderoso glossário de gestos e movimentos a que teve acesso.

Os ingressos para Primavera e Gira em Florianópolis estão disponíveis pelo Disk Ingressos.