Estilo surgiu nos anos 60 como forma de acolhimento de pessoas LGBTIs e periféricas

Em 1990, Madonna convidou: “come on, vogue, let your body move to the music”. Apesar de levar o nome da revista de moda mais famosa do mundo, a música na verdade é sobre a dança vogue, estilo que surgiu nos anos 60 nos Estados Unidos e que tem movimentos que “imitam” as poses das modelos. As práticas aconteciam em salões que acolhiam pessoas LGBTIs, negras, latinas e periféricas, onde elas podiam expressar sua sexualidade, seu estilo e sua autenticidade sem medo. Por aqui, quase cinco décadas após o surgimento do estilo, estabeleceu-se em Santa Catarina a primeira house (como são chamados os grupos que praticam a dança) em abril de 2018 – a House of Sorceress, ou casa da feiticeira, em tradução livre. O nome é uma homenagem às lendas das bruxas de Florianópolis. 

House of Sorceress
Diogo Vaz Franco, dançarino da house. Foto: João Victor

A House of Sorceress foi criada por Ednei de Brito e Willian Mario, pai e mãe da house, respectivamente – nos grupos, as hierarquias funcionam como em famílias. Ednei, licenciado em educação física, começou a treinar por conta própria antes de começar a fazer aulas e conhecer outros dançarinos. Antes de idealizar a house, ele também foi professor de escola de dança. Já Willian, estudante de artes cênicas da UFSC, tem uma trajetória no teatro e dança que vem desde a infância e em 2013 fez uma primeira aula de vogue com Augusto Follmann, uma das maiores referências no país. Ambos conheceram o estilo por meio de vídeos na internet e se identificaram com o poder de libertação da dança.

Mesmo envolvido no meio artístico, eu nunca havia provado de tamanha identificação como senti quando comecei a dançar vogue. Em um mundo ainda muito heteronormativo, estar inserido em uma cultura que te aceita e empodera é muito importante. O vogue é nós para nós mesmos”, conta Willian. 

House of Sorceress
Fotos p&b: Ramon Marcos Macedo de Andrade

A primeira apresentação da house rolou na festa Shame Club, em agosto, na Gruta Dourada, no Centro de Floripa. Depois, eles fizeram apresentações no Jivago, na Escola de Dança Cenarium, na Escola de Dança Mutama e no Pop Gay, no Carnaval. Recentemente, foram uma das principais atrações da edição de aniversário de 3 anos da festa Bateu, no Bar do Deca – eu vi o grupo se apresentar na Shame e na Bateu e eles são realmente incríveis!

Dançarinos do grupo já estão inclusive, ganhando prêmios fora do Estado: Diogo Vaz Franco, na foto no destaque da matéria, levou o GrandPrize (primeiro lugar) no Ballroom RJ, em janeiro. Ele batalhou com nomes importantes da cena carioca e trouxe para Florianópolis o prêmio principal na categoria Old Way, um dos subgêneros do vogue.

Para quem se interessar, a house disponibiliza aula aberta de vogue todo sábado, das 16h30 às 17h30, no Instituto Arco Íris, na Travessa Ratcliff, Centro. Entre as metas do grupo está ser democrático, acessível e inclusivo.

“Essa questão da autoestima e empoderamento acaba acontecendo de forma natural, porque dentro dessa cultura é possível. Eu consigo ser eu mesmo, ser o que quiser e me sentir a vontade com tudo. E o vogue é acessível pra qualquer pessoa! Tenho um grande desejo de ensinar vogue para cadeirantes, pois existem categorias exclusivas de “hands perfomance” e “arms control”, por exemplo, que contemplam até mesmo esse tipo de inclusão”, conta Ednei. 

Willian na Shame Club

Ou seja, não precisa ficar só admirando os movimentos ágeis dos dançarinos no rolê enquanto pensa que isso não é para você – todos podem participar e aprender. 

“O vogue nasce no meio de uma cultura LGBTI, então sempre será um refúgio e um local de troca para essas pessoas. Mas é extremamente aberto e livre”, finaliza Willian. 

House of Sorceress – aula aberta de vogue

Quando: sábados, das 16h30 às 17h30
Onde: Travessa Ratcliff, 56, Centro, Florianópolis
Quanto: entrada gratuita

 

Foto em destaque: Caio Cezar