Documentário Vãnh gõ tõ Laklãnõ recompõe história do povo Laklãnõ/Xokleng
Conduzido pela arqueóloga Walderes Coctá Priprá e dirigido por Barbara Pettres, Flávia Person e Walderes Coctá, o documentário Vãnh gõ tõ Laklãnõ reconstrói, em imagens de arquivo, poemas, cantigas e entrevistas, parte da história do povo Laklãnõ/Xokleng, que habitava os três estados Sul do país. Perseguido por bugreiros pagos pelo Estado e por colonizadores, dizimado por doenças e mudanças no seu modo de vida, foi praticamente extinto, restando apenas 106 pessoas nas primeiras décadas do século XX. O título, na língua Laklãnõ, não tem tradução literal, significa algo como Resistência Laklãnõ. O filme, que estreou como convidado no 26º Florianópolis Audiovisual Mercosul – FAM 2022, é um dos nove curtas brasileiros selecionados para o festival É Tudo Verdade 2023, o mais importante festival dedicado à
linguagem do documentário na América Latina.
O documentário, contemplado com o Prêmio Catarinense de Cinema, retrata poeticamente alguns fatos da história, a partir do ponto de vista de seus protagonistas: a retomada da língua, que se deu a partir da década de 1980, e o impacto da construção a partir de 1972 da Barragem Norte, maior obra de contenção de cheias do país, que resulta em inundações na Terra Indígena e provocou a divisão da aldeia inicial, perto do rio, em 10 aldeias ao longo do território. O filme trata ainda da presença das igrejas evangélicas na Terra Indígena e a questão do Marco Temporal, do qual o povo é protagonista.
De acordo com a tese do Marco Temporal, os indígenas só podem reivindicar demarcação de terras onde já estavam em outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. O julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal trata da demarcação da Terra Indígena Laklãnõ, a partir de um processo movido pela Fundação do Meio Ambiente de Santa
Catarina – Fatma (atualmente IMA – Instituto do Meio Ambiente) contra a Funai. O julgamento é de Repercussão Geral, ou seja, terá impacto sobre a demarcação de terras indígenas em todo o país.
Após o contato com os não indígenas, em 1914, período conhecido como “pacificação” (termo não reconhecido pelos indígenas, que utilizam a palavra contato para falar desse período), o povo ficou restrito à Reserva Duque de Caxias, no Alto Vale do Itajaí. A reserva foi chefiada por Eduardo de Lima e Silva Hoerhann, sobrinho-neto de Duque de Caxias,
durante 42 anos, sendo afastado do cargo pelo assassinato do indígena Brasílio Priprá, crime do qual mais tarde foi absolvido. A área atualmente é denominada Terra Indígena Ibirama-Laklãnõ, entre os municípios de José Boiteux, Doutor Pedrinho, Vitor Meirelles e Itaiópolis. Atualmente são aproximadamente 2.800 pessoas, segundo dados da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), de 2019.
A pesquisa para o filme, realizada desde 2016, utilizou acervos do professor Silvio Coelho dos Santos, um dos principais pesquisadores não indígenas sobre o povo, assim como trabalhos acadêmicos dos próprios indígenas, alunos da Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica – UFSC, e outros estudos. A partir da pesquisa foi criado o Portal de Saberes Laklãnõ Xokleng para compartilhar a cultura e identidade do povo.
Imagem em destaque retrata Walderes Coctá Priprá