Novo trabalho da artista e editora traz um recorte de produções realizadas entre 2017 e 2022

O livro “Ma, viu: de que gente que tu é? de onde que tu veio?”, novo trabalho da artista e editora Gabi Bresola, será lançado nesta quarta-feira, 6 de julho, no Ponto. Bar e Piadina, Centro de Florianópolis. Com edição limitada, a obra é composta por doze trabalhos originalmente concebidos em suportes como pinturas, fotos, áudios, publicações e vídeos, dispostos nas páginas do livro em versões impressas e alguns com QR codes para acesso online. É o segundo volume da Coleção Vazante, um projeto da CAIS Editora iniciado em 2021. Para pessoas que não puderem comparecer, há venda pelo site.

A obra acompanha ainda uma conversa entre a artista e editora Kamilla Nunes, a mãe da autora, Nanci Bresola, em colaboração com Patrícia Galelli e Fabio Morais, e posteriormente editada por Aline Natureza. O título do livro se refere ao questionamento comum da cultura oral presente no meio oeste catarinense, duas perguntas que orientam as indagações presentes nos trabalhos, de pensar a própria origem cultural, o que ela representa hoje e, ao mesmo tempo, pensar na história dos lugares.

“Qualquer imigrante ou descendente de imigrante, estabelecido entre o meio-oeste e o oeste de Santa Catarina, quando conhece outra pessoa de fora, inicia a conversa sempre com duas questões: “de onde que tu veio?” e “de que gente que tu é?” geralmente com um “Ma, viu” antecedendo a frase (típico da cultura imigrante especulona). Responder a essas duas perguntas, dentro da compreensão local dessas regiões, significa dizer de qual cidade você nasceu e qual o seu sobrenome. A partir dessas respostas, haverá uma diferenciação na hospitalidade e no tratamento. Se o sobrenome ou a cidade de nascença é de origem europeia, o reconhecimento e a tentativa de parentesco domam a conversa. Se for sobrenome “da Silva” ou outros semelhantes, automaticamente, se reconhece como “brasileiro”, “caboclo”, e o racismo cordial muitas vezes é quem guia a relação”, diz Gabi Bresola no livro, quando perguntada pela editora Kamilla sobre o uso da palavra “colono”.

“Continuo usando a palavra colono no sentido de assumir minha origem e pensar sobre o impacto que ela tem no que eu represento”, completa a artista.

revizão: 17 flâmulas, texto bordado em tecido de algodão / 2018

A seleção de trabalhos de “Ma, viu” traz um recorte de produções realizadas entre 2017 e 2022 com assuntos recorrentes na pesquisa da artista, entre a mediação do conhecimento empírico e formal, o uso da palavra com a língua e a história oral, apropriações, questões coloniais e geopolíticas do Sul do Brasil, os afetos e repulsas de sua ascendência de imigrante e a complexidade de trazer isso no contemporâneo através das artes visuais. 

Na seleção estão os trabalhos “Questionário de Imigrante”, “Revizão”, “Vindas”, “Capital do Estado”, “Nostalgia Europeia no Novo Mundo”, “Happy Topographies [Lugares terrivelmente felizes]”, “Infraleves da Linha Pacífico”, “Mapeamento”, “Brasil Novo”, “Braice Larfiar, Braice Ler” e “Gosto de Deleuze, mas prefiro meu pai”. A maioria deles foi concebida e exibida na exposição individual “Diretamente oposto ao norte” que Gabi realizou em 2021 no formato virtual com a curadoria de Marcos Walickosky, que é também o título dado ao texto experimental que encerra o livro.