Aproveitei para trocar uma ideia com Tiago Franco, o Gezender, que toca na festa deste sábado

A primeira vez que o projeto Mamba Negra se apresentou na Terraza, em Florianópolis, em dezembro de 2016, foi também a minha primeira vez no clube (a performance do modelo francês Loïc Koutana naquela noite foi inesquecível). Neste sábado (8), o coletivo de São Paulo volta à pistinha com Cashu, Mari Herzer e Gezender, além de Kosmo, residente da Terraza,  que aproveita a festa para comemorar seu aniversário.

O Mamba Negra surgiu há cerca de cinco anos, em um momento de efervescência política e cultural em São Paulo, e ficou conhecido por realizar festas em locais públicos como ruas e praças, ocupações e espaços degradados. Hoje, é um dos projetos mais relevantes na noite paulistana e vale a pena curtir a passagem  dele por aqui. Desta vez não vai ter participação de Koutana, mas haverá performances da modelo Valentina Luz e da performer baiana Euvira, que fazem parte do coletivo Namíbia.

“Resistir não é só pular de um after pro outro”, diz Gezender

Foto: Marcelo Mudou

Tiago Franco, nome por trás do Gezender, que vai tocar na festa deste sábado, é uma figura conhecida da antiga noite de Floripa. Por aqui, produziu festas por mais de 12 anos – como a Devassa, que rolou durante oito anos – e desde que se mudou para São Paulo, há três, trabalha com o coletivo Mamba Negra.  O Gezender nasceu na mesma época.

“No início, a Devassa era uma festa pautada no electro, electroclash e electro rock. Como durou cerca de oito anos, foi acompanhando o que surgia de novo na música eletrônica. Após o electroclash, no início dos anos 2000, o minimal era bem presente nos line ups, até que chegou no outro extremo, numa fase maximal. O meu projeto Gezender nasceu depois de toda essa vivência na Devassa, quando resolvi me mudar pra São Paulo. Eu produzi música em Floripa, mas o que gosto mesmo é de discotecar”, explica o artista.

Ele também é criador da festa Sangra Muta, que rola há dois anos e já teve edições em São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro, além de trabalhar na agência do coletivo, onde atende artistas como Cashu, Lorac Issum (Cashu + Amanda Mussi), Diaz, Carneosso e o Teto Preto. Hoje, só acompanha a cena musical e noturna da Capital catarinense de longe.

“Vejo que tem alguns projetos super interessantes rolando na cidade, que se preocupam com políticas sociais e de inclusão e vão além da música. Os espaços são criados quando produtores se preocupam com questões mais profundas e a música acaba refletindo isto. Fomentar ambientes assim é sempre um exercício de resistência. Aos poucos, esses espaços vão tomando forma e crescem organicamente”, opina.

Foto: Marcelo Mudou

Falando em resistência, perguntei ao artista sobre a importância do rolê de música eletrônica independente como um espaço de acolhimento para pessoas LGBTIs, negras e periféricas. De que forma o rolê será importante nesse momento político obscuro?

“Acho que o Sul precisa absorver essa ideia de contexto marginal onde a música eletrônica surgiu. O primeiro passo pro entendimento de um movimento cultural é o conhecimento de suas raízes e, no caso da música eletrônica, do como e porquê ela surgiu. Tá rolando um resgate dessas raízes que é ignorado por grande parte dos produtores. Hoje, pensar na inclusão de mulheres, pretas e LGBTIs não é mais uma opção, mas um cuidado fundamental que se tem que ter não só na curadoria dos artistas, mas em toda a estrutura de produção, staff e divulgação de algo que não é mais só um evento, mas uma pauta a ser discutida em todos os meios. Vivemos à beira de um colapso anunciado e resistir não é só pular de um after pro outro, mas ouvir o que outras minorias têm a dizer, exercitar a empatia e dar voz àqueles que serão mais prejudicados nos próximos anos. Enquanto movimentação eletrônica, temos que nos unir e abrir o espaço que ainda é majoritariamente banco, hétero, cis e de classe média a outros corpos – e note que, pra esse perfil, abrir esse espaço não implica na perda dele, mas no compartilhamento. Precisamos nos ouvir, incluir – e isto implica em escurecer, embucetar e enviadar mais essa cena pra praticar de fato a micro política necessária pro momento. E neste desespero do agora, o apoio das classes e perfis dominantes na noite são de extrema importância pra sobrevivência de uma cena saudável e diversificada”, finaliza.

Mamba Negra 

Quando: sábado (8), a partir das 23h
Onde: Terraza – Rodovia Maurício Sirotsky Sobrinho, 1050, Jurerê, Florianópolis
Quanto: R$ 60 pista ou R$ 100 pista dupla, via Blueticket