Longa foi rodado na Praia da Solidão e teve uma casa de madeira erguida na areia da praia especialmente para as filmagens

Filme autoral, segundo longa-metragem de ficção da realizadora e multiartista Sandra Alves, Mares do Desterro será lançado na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo nesta sexta (29), com exibição online até 4 de novembro, com ingressos a R$ 12 no site da Mostra.  O filme, todo rodado no Sul da Ilha entre 11 de abril e 10 de maio de 2019, é um dos 19 longas brasileiros que fazem parte da Mostra Brasil, na seleção oficial de um dos mais importantes festivais do país. 

Em Mares do Desterro, um filme todo em preto e branco, uma família se isola do mundo numa praia de difícil acesso. O pai, Joaquim, pesca e tem contatos eventuais com o vilarejo mais próximo; Luzia, a mãe, cultiva uma horta; Divina e Serena, gêmeas idênticas, e Mariano, o caçula, crescem, rodeados por mar e areia. Dez anos de isolamento fazem surgir relações atípicas. Após uma situação limite, Divina toma para si a responsabilidade de cuidar da família; detentora de importante segredo, aguarda pelo momento de revelá-lo. Em suas ações e provocações ela aos poucos explicita as dinâmicas ali existentes: relações de amor, desejo, poder, submissão, violência, resistência e suas nuances. A protagonista é a atriz cearense Débora Ingrid, que interpreta as gêmeas Divina e Serena.

Equipe passou por uma imersão na Praia da Solidão

mares do desterro

O roteiro original de Mares do Desterro foi escrito por Amilcar Claro, morto em 2015, que trabalhou no texto durante 10 anos. Além da direção, Sandra Alves assina fotografia, câmera, montagem e realização do filme, que é o primeiro longa-metragem totalmente rodado no Sul da Ilha de Santa Catarina, especialmente na praia da Solidão. No intuito de intensificar a proposta dramatúrgica do filme e uma realidade de isolamento, Sandra idealizou um processo de imersão. A escolha das locações e a concentração da equipe num lugar só, hospedada na Solidão a poucos metros do cenário, resultou numa intensa conexão dos membros da equipe entre si e o ambiente.  

Quatro semanas antes das filmagens, os atores tiveram oportunidade de experienciar a criação das personagens no próprio ambiente em que seria rodado o filme. Enquanto isso, era construído o cenário principal, uma casa de madeira, rústica, erguida na areia da praia, um cenário orgânico, mutável, sujeito aos ventos, oscilações da maré e do Rio das Pacas, que deságua neste ponto da Praia da Solidão e cujo curso varia, assim como a conformação da areia ao seu redor. 

A localização do cenário principal foi resultado de um longo período de observação da praia. A evolução das marés e as mudanças do curso do rio foram acompanhadas e fotografadas durante um ano e meio pela realizadora. Esse monitoramento constante de um lugar diariamente mutável foi a base para definir a localização da casa que, assim como os móveis, foram construídos com material que já trouxe impressas vivências e a ação do tempo. As madeiras vieram do velho estábulo de Lalau, antigo morador da planície do Pântano do Sul. O estábulo foi desmontado especialmente para o filme, as tábuas foram escolhidas uma a uma por Daniel Grison, que mora na Praia da Solidão e foi o responsável pela construção do cenário. James Crawford, outro morador local, construiu o telhado da casa com palhas que retirou pessoalmente da região. Os móveis foram construídos pelo artista visual Mário Deganelli, e o fogão à lenha pelo imigrante tcheco Petr Maslin, que também escolheu a praia da Solidão como refúgio. A direção de arte é de Marina Moros.

Os objetos cenográficos – lamparinas, pombocas, máquina de costura, baú, chapa para fogão de barro e louça – resultaram de uma curadoria com empréstimo de fontes variadas, em especial o Museu do Lixo, da Comcap, em Florianópolis. 

Imagem em destaque: Georgette Fadel interpreta a mãe, Luzia