Campanha Amazônia Passa Aqui promove expedições em circuitos urbanos: em Florianópolis, lançamento será neste domingo (17) com o circuito de bike “Era mar mas virou asfalto”

Em meio às projeções de colapso ambiental, de emergências climáticas e dos brutais assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, que denunciavam violações na floresta, a campanha Amazônia Passa Aqui nasce a partir de coletivos e organizações da sociedade civil com o objetivo de promover ações de rua que conectem a mobilidade ativa à proteção do território de maior biodiversidade do planeta. A iniciativa foi idealizada pela Coalizão Clima e Mobilidade Ativa – CCMob – e será lançada no domingo, 17 de julho, Dia de Proteção às Florestas, nas 7 capitais das regiões sul e sudeste do Brasil. Todas as cidades participantes criaram circuitos culturais que estimulam a reflexão sobre a presença e influência da Amazônia nessas regiões, com trajetos que contemplam parques e áreas de preservação, rios e nascentes (muitos inclusive soterrados pelo asfalto), apreciação de horizonte, reflexão sobre os rios voadores, exposições, arte de rua, gastronomia e até contato com comunidades tradicionais. Em Florianópolis, haverá o circuito de bike “Era mar mas virou asfalto”, com saída às 8h da pista de skate da Costeira do Pirajubaé.

O circuito liga duas áreas que já foram mar um dia, mas hoje são aterros. Ao longo das últimas décadas, o desenho da Ilha de Santa Catarina sofreu alterações devido à ação humana, principalmente por meio de aterramentos em sua orla. Em grande parte, essas modificações ocorreram para acomodar mais tráfego, principalmente de automóveis individuais. Como resultado, Florianópolis, que já possui uma geografia complexa, por se tratar de uma ilha bastante estreita e com elevações no seu centro, sofre constantemente com sua mobilidade urbana prejudicada, lenta e restritiva.

O trajeto, portanto, questiona inicialmente a devoção da cidade às obras feitas com recursos públicos que beneficiam poucas pessoas – aquelas que estão dentro de seus automóveis. E, mesmo para esse modal barulhento e espaçoso de transporte, os recursos não são suficientes e a experiência de dirigir, como em boa parte dos centros urbanos, torna-se exatamente o oposto do planejado: lento, caro e poluente.

Ainda no âmbito dos aterros, pouco foi feito para conter os imensos danos ambientais que vieram com as novas áreas. O início do trajeto, por exemplo, se dá na Costeira do Pirajubaé, bairro que tem uma privilegiada vista para o mar, mas também é símbolo de ruas pouco humanizadas, moradias que ocupam áreas de preservação e um aterro que transformou por completo a vida da população nativa, que comumente vivia do extrativismo do oceano.

O circuito liga duas áreas que foram aterradas e transformadas pela ação humana e também contorna parte do Maciço do Morro da Cruz, uma área que divide espaço entre moradias e matas nativas. O Maciço também acomodou, historicamente, a população que não era “bem-vinda” no Centro da cidade, que acabou sendo empurrada para as encostas dos morros. Hoje, a área conta com 18 comunidades diferentes que, além da vista para o mar, vivenciam desigualdades sociais e violências diversas.

O circuito inicia no Skate Park da Costeira e passa por pontos como a Reserva Extrativista do Pirajubaé, Pomar dos Ciclistas, Casa de Passagem Indígena Goj Ty Sá (terminal Tisac), mirante do Hospital de Caridade (área de Mata Atlântica preservada no centro da cidade, que purifica o ar e regula as chuvas da área central) e a ciclovia da Hercílio Luz, construída sobre o rio da Bulha, canalizado e invisível. O pedal termina com um almoço-piquenique no Parque da Luz, no Centro.

Como colaborar

Instituições, coletivos e até mesmo pessoas físicas podem, além de participar dos roteiros propostos pelo Amazônia Passa Aqui, somar à divulgação do projeto. É possível baixar o mapa para fazer um dos circuitos de forma independente e autônoma. É um roteiro aberto e gratuito, evidenciando sempre espaços públicos. Todos os materiais de comunicação, online e offline, estão disponíveis para interessados em colaborar. Mais informações no blog da campanha ou pelo Instagram.

Imagem em destaque: Amazônia Passa Aqui / Belo Horizonte – Divulgação.