Florianópolis recebe exposição e intervenção urbana no dia 9 de novembro

Artista da Geração 2000, um dos mais importantes de Santa Catarina, Sérgio Adriano volta a circular por dez cidades de Santa Catarina em novembro com o projeto “Palavra Tomada”, com o qual conquistou o Edital Elisabete Anderle. A exposição/intervenção urbana traz uma série de dez fotografias e objetos que discutem a questão do racismo estrutural no Brasil e é embasada com dados estarrecedores da atual realidade brasileira com o aumento dos índices de morte e violência contra mulheres e jovens negros ou pardos. Florianópolis é a primeira parada e recebe o projeto no dia 9 de novembro, das 10h às 15h, na Fundação Cultural Badesc.

As palavras interessam ao artista que descontrói discursos históricos, “verdades apresentadas”, como ele prefere dizer. Suas investigações passam pelas enciclopédias, dicionários, livros de arte e revistas.  Nestas imagens, recorta palavras para montá-las em carimbos apresentados na boca do artista. Com os lábios cerrados, mostra, entre outras, as palavras preto e ordem e progresso. Carimbos são peças feitas de metal, madeira ou borracha que contém sinais gráficos em relevo que servem para marcar à tinta documentos, papéis, etc. Servem também, quando feitos de metal, para marcar o gado e, no passado escravocrata brasileiro, a pele para identificar a quem pertence àquele animal ou corpo humano.

“A obra de Sérgio Adriano se caracteriza por trazer em si esmero técnico, conceitual, político e talvez, principalmente, pela conscientização através da palavra, do “verbo”. Em tempos de destruição do país através de políticas suicidas calcadas em um individualismo extremo, Sérgio faz da palavra elemento fundamental na construção de uma poética potente que investiga a população negra no Brasil, marcada desde o berço, para ocupar espaços pré-determinados e de pouca visibilidade”, afirma a curadora Rosana Paulino, que também é artista e referência na luta contra a invisibilidade da produção afro-brasileira no circuito de arte contemporânea. 

Com objetos, fotografias e vídeos, a prática do artista propõe reflexões sobre temas existenciais pensados dentro do sistema simbólico chamado como “verdade”. Essas discussões abrangem questões sobre a morte, a identidade racial, a violência e o apagamento social. As fotografias, instalações, performances e objetos são criados para fazer pensar e provocar incômodo diante de uma realidade de dor e sofrimento.

A descentralização das ações proposta pelo edital entra em consonância com os interesses do artista que aprecia estar nas ruas, onde expõe nas calçadas, nas escadarias, em lugares movimentados. Uma das marcas desse artista é o permanente desejo de contato direto com o público, a céu aberto, onde pode dialogar sobre as questões da vida e da arte. “Meus projetos são baseados em falar com as pessoas”, diz. 

Um de seus irmãos, Hero Dias, foi fundamental na determinação de estar nas ruas. Embora com um artista dentro de casa, que falava sobre arte, Hero nunca tinha ido a um museu.

“O começo de minha trajetória se dá em 2001, meu irmão só foi a um museu em 2013, porque não fomos educados a frequentar instituições e espaços de arte. Depois disso, ele foi estudar desenho na Casa de Cultura”, diz Sérgio Adriano H que, ao perceber ao seu lado alguém que não se permitia ir a um museu, quis, então, trabalhar para expor não só em museus, mas também ir atrás das pessoas para que elas se permitissem a ver uma arte de boa qualidade, apreciar obras também montadas em exposições de instituições museológicas e galerias.

“Quero despertar o desejo pela arte, despertar o desejo de levar as pessoas a sonhar”, sintetiza Sérgio. “Em um mundo cada vez mais conectado na ignorância coletiva, a arte cumpre seu papel resiliente no despertar dos questionamentos e na liberdade individual de pensar, concluir e se expressar.”

Palavra Tomada

Florianópolis – Fundação Cultural Badesc – 9/11, 10h às 15h
Criciúma – Praça Nereu Ramos – 10/11, 10h às 15h
São José – Praça Hercílio Luz – 11/11, 10h às 15h
Itajaí – Calçadão da Hercílio Luz – 12/11, 10h às 15h
Chapecó – Praça Coronel Bertaso – 13/11, 11h às 16h
Joinville – EEB. Profº. Germano Timm, rua Eduardo Krisch, 34, bairro América – 16/11, 7h às 12h
Jaraguá do Sul – Associação dos Artistas Plástico de Jaraguá, Praça Ângelo Piazera – 17/11, 10h às 15h
Blumenau – Museu de Arte de Blumenau, rua 15 de Novembro, 161, centro – 23/11, 10h às 15h
São Francisco do Sul – Praça Getúlio Vargas – 24/11, 10h às 15h
Lages – Praça da Catedral – 27/11, 10h às 15h

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