Cozinheira e ex-participante do Masterchef Profissionais fala sobre sua história, planos e impressões que teve da gastronomia em Florianópolis
Há cerca de três meses, a cozinheira paulista Roberta Magro está dando um rolê por Floripa. Uma das participantes mais queridas e autênticas da atual edição do reality MasterChef Profissionais (eliminada no episódio exibido em 29 de outubro), ela tem assinado jantares por aqui e se prepara para passar a temporada na Praia do Rosa. Quis saber mais sobre essa relação com SC e ela me recebeu no apê onde está morando para uma conversa sincerona sobre planos e impressões que teve da Capital catarinense.
Me fala mais da sua história e sua relação com a gastronomia.
Fui para São Paulo quando tinha uns 19 anos. Antes, fui chefe de bar em Atibaia (onde nasceu e cresceu) e tinha começado a tatuar em estúdio. Lá, comecei a trabalhar em bar e fui fazer artes plásticas na Panamericana, mas abandonei. Fiquei em Sampa até uns 21 e fui para Londrina fazer gastronomia na Unopar. Minha mãe morava lá e era barato, eu não tinha grana para fazer no Senac. Lá era mais tradicional, não tinha uma galera jovem ainda. Comecei lavando louça em shopping porque a galera não botava fé. Achava que eu era filhinha de papai, que não sabia o que estava fazendo. Foi bem difícil, tinha uma rejeição bem forte tanto pelo visu quanto por ser mulher e nova (hoje, Roberta tem 28 anos).
E depois que se formou?
Tinha uns amigos que se mudaram para Curitiba e me chamaram. Mudei, fiquei um ano lá, trampei num restaurante bem legal que se chama Mukeka, do chef Ivan Lopes, que é um puta querido. E é cozinha brasileira. Pensei: “que irado, olha a quantidade de ingredientes que a gente nem sabe, não usa, não dá valor”. Brasileiro tem essa mania de achar que tudo que é de fora é mais legal. Ali vi que não queria trabalhar com cozinha internacional, que eu gostava da brasileira, mesmo. Aí teve um evento da revista Prazeres da Mesa com a Janaína Rueda, André Mifano e Alex Atala. O Alex Atala era um ídolo para mim, e aí conheci ele, um querido, fodassa. Ele me falou para voltar para São Paulo e fazer um estágio no D.O.M. e no Dalva e Dito. Voltei a morar em Atibaia, acordava às 4h da manhã para estar no estágio às 7h, e sem ganhar nada por isso. Mas é muito louco trabalhar com produto foda, brasileiro, ingrediente bom. Comecei a curtir de verdade. Depois saí, chefiei uma hamburgueria na Vila Olímpia, fui para A Casa do Porco, onde fiz de tudo, até que voltei para Atibaia no ano passado. No final do ano, o Jeffinho (Jefferson Rueda, chef do A Casa do Porco) me chamou para gerenciar outra casa dele, a Hot Pork. Fui, mas aí rolou o Masterchef e saí, porque não tinha como conciliar.

Como veio parar em Floripa, tinha amigos aqui?
Terminou as minhas gravações no programa e eu vim para cá. Sempre quis vir, tinha uma pira de morar em Floripa. Logo que cheguei, fui trampar na Toca da Garoupa. Não conhecia ninguém, só a Laró (Prazeres, maquiadora e hostess). Mas acho que só vim para cá para ter um vínculo e ir para o Rosa. Desde a primeira vez que fui para lá, senti a mesma coisa que senti quando cheguei em Arraial d’Ajuda: “nossa, eu quero ficar aqui, eu preciso morar aqui”. Quem me apresentou a galera de lá foi o André (Pionteke) do programa. Depois, recebi uma mega proposta para ficar lá na temporada. É uma grana que eu não vou ganhar com evento. Se você não tem grana nem assessoria, você tem que correr sozinha atrás do negócio, bolar o cardápio, ir lá, cozinhar. É pesado.
Quando você vai para o Rosa e o que vai fazer por lá?
Começo dia 23 de dezembro. Vou trabalhar no Pipe Gastro Bar. É bem bonito, um pico bem grandão, e eles confiaram no meu trampo. E quero continuar fazendo eventos. Porque não dá para eu sumir. Se eu perder essa oportunidade, não vai existir outra. E eu não tenho paciência de ficar fazendo live nas redes sociais, essas coisas que a galera faz. Ali mostro minha vida, para quem quiser ver meus rolês. Cozinhar é meu trampo, mas eu não chego em casa e cozinho. Sou cozinheira, e ponto. Eu amo o que eu faço, mas vivo minha vida, tenho outras coisas também.
Que coisas são essas, o que você curte fazer quando não tá no trabalho?
Eu gosto de ter experiências de comer e beber em lugar legal. Acho que Florianópolis é muito falho nisso. Principalmente em comida. Nem fui comer em muitos picos aqui porque se é pra comer risoto ou polvo eu não vou, porque já sei qual é o sabor, tá ligado? Risoto eu faço em casa. O lugar pode ser bonito, mas acho que falta muito uma experiência gastronômica foda aqui. Tem o básico, a galera paga R$ 90 por um purê com peixe. Meu, você podia fazer muito mais. Mas as pessoas não aceitam isso. Percebo nos jantares que tenho feito aqui. As pessoas gostam de pagar para comer o normal, coisas que se comem em qualquer lugar. Não estão abertas a comer algo diferente, e isso é frustrante para mim. E esse é o momento de eu mostrar meu trabalho. Minha cozinha é muito afetiva, de lembrar a minha família, mas eu sempre tento trazer uma coisa que seja mais fora da casinha. No Rosa, fiz um jantar em que a sobremesa era uma sopa fria de melancia com especiarias e crocante de gengibre, e a galera ficou em choque. Mas não precisa ser uma torta de chocolate para ser sobremesa.
Aqui tem um pouco disso, mesmo. E quais os lugares que você curtiu ir?
O Vie Vin achei irado, é escuro e tem essa pegada de vinho. O Afonso, o Picnic Food do Asdra. O No Class, o Madalena, o Ateliê 389. Acabo sempre ali no Centro. Adoro ir no Rios, na Hercílio Luz. Já morei ali na frente. O hambúrguer do Asdra é iradíssimo porque é aquela proposta, tem só aquilo, e se quiser comer ali é vegano e pronto.
E depois da temporada, já tem planos?
Quero vazar do Brasil. Aqui é muito legal, mas é foda. Acho o Brasil caótico em relação a preço, é absurdo pagar um euro em um pedaço de queijo bom, e aqui pagar uns R$ 15. Você não compra nada com R$ 100 no mercado. Quero ter oportunidade de estagiar em um pico legal, mas de um dia poder mostrar a cozinha brasileira lá fora. Também tenho muita vontade de fazer um curso que não tem nada a ver com gastronomia. Taxidermia. Sempre quis fazer.
5 pratos, 5 vinhos
Nesta quinta (22), Roberta Magro vai comandar um jantar no Vie Vin, no bairro Santa Mônica, em Florianópolis. O evento tem uma proposta intimista, com vagas limitadas, e terá trilha sonora escolhida pela própria Roberta. Serão cinco pratos, como língua com salada de agrião e rabada com polenta, preparados especialmente para harmonizar com cinco taças de vinho. Informações e reservas pelo telefone (48) 98476-1970.