Festa que influenciou a cena de música eletrônica da Capital catarinense chega ao fim depois de sete anos

O que parecia fofoca de Twitter ou de fila do banheiro da balada se concretizou: a BATEU, festa que mudou e influenciou a cena de música eletrônica em Florianópolis, vai mesmo acabar. A última edição será nesta sexta-feira (10), no Rancho do Pescador, local que já recebeu algumas edições icônicas nos últimos sete anos.

A BATEU sempre se destacou pela atmosfera de inclusão, principalmente para a população LGBTQIAP+ e também para pessoas pretas.  Entre as medidas tomadas para garantir a segurança e o bem-estar de quem a frequentava estavam a proibição de fotografar ou filmar durante a festa e entrada somente com nome na lista ou ingresso adquirido previamente. Muitas festas legais que existem hoje beberam na fonte da BATEU, que abriu espaço quando tudo era mato e influenciou produtores a criarem seus próprios projetos. Vai deixar saudades!

Para marcar essa despedida, o yasss conversou com Alessandro Calve (Le Calve) e Arthur Erpen (Kosmo). Leia a entrevista:

Por que decidiram encerrar as atividades da BATEU?

Acreditamos que todo projeto de sucesso tem um período definido e que a BATEU cumpriu com os objetivos com os quais nos comprometemos durante esses sete anos que se passaram. Quando começamos a fazer as festas em 2016, a ideia era criar um ambiente seguro e com uma sonoridade interessante para quem procurava ouvir o que era diferente, que em Floripa era muita novidade na época. Nem esperávamos que crescesse tanto, passando de uma festa de 100 pessoas no Centro até mil clubbers dançando de manhã na Praia Mole, o que claramente trouxe desafios e muito trabalho.

Para nós continuou sendo um projeto paralelo às nossas profissões, algo muito gratificante, mas que consumia tempo e energia, muitas vezes mais do que podíamos dispensar. Com a necessidade de focarmos mais em nossas vidas pessoais, na família e em nossos outros projetos, chegamos à conclusão de que fazer a BATEU já não cabia mais em nossas agendas. Além disso, um outro fator muito importante na decisão foi a percepção de que a cena de música eletrônica, tanto em Florianópolis quanto no Brasil, tomou um rumo diferente do que se via antes da pandemia da COVID-19, transformando a forma como se ouve música, se consome diversão e se interage.

Nós mudamos, a cena mudou, nossos objetivos mudaram, e então a decisão veio da confluência de todos esses fatores. Era para ter acontecido até antes, mas nós temos noção do quão importante é a BATEU para o público e como as pessoas sentiriam falta. Por isso nós ainda fomos segurando um pouco mais e diminuindo aos poucos até chegar nesse momento.

Falem mais sobre a escolha do local da despedida. O Rancho já recebeu algumas edições icônicas da BATEU. Por que decidiram retornar pra lá para a derradeira, já que as últimas festas vinham sendo no Deca?

O Rancho do Pescador foi onde a BATEU se sentiu mais à vontade, onde conseguimos conectar a música com a natureza pela primeira vez e pudemos passar a ver o sol nascer à beira do mar. Porém, é um lugar pequeno para um público que só crescia. Nós paramos de fazer festas lá e migramos para o Deca quando o local não suportava mais a quantidade de ingressos vendidos.

Há muito tempo tínhamos vontade de fazer alguma festa menor lá, para nos sentirmos mais próximos das pessoas, mas o Rancho parou de receber festas de música eletrônica por um bom tempo, voltando a recebê-las apenas recentemente. Esse evento de agora é muito especial pois, além de ser o encerramento, também é a comemoração de 7 anos do projeto. Logo, pensamos que ali seria o lugar ideal. Uma festa mais íntima, para os amigos, para aqueles que sempre estiveram com a gente.

Como vocês pretendem seguir a partir de agora? Pensam em produzir outra festa?

Fazer festa é uma delícia, mas às vezes chega a ser um trabalho exaustivo. Para podermos focar em outras coisas, por enquanto não faremos mais eventos desse tipo. Isso não quer dizer que não possamos fazer outras coisas voltadas para a música eletrônica. Uma das delícias de ser empreendedor é sempre estar procurando novas formas de criar, de conectar pessoas, de comunicar, e isso pode ser uma inspiração para novos projetos. Temos muitas ideias e pode ser que uma hora apareça algo novo. Quem sabe…

A BATEU foi uma das primeiras festas daqui com uma proposta inclusiva e inovadora – desde toda a estética até o som. O que fica de legado da BATEU e como ela influenciou e abriu as portas para outros produtores locais?

Temos a certeza de que o que criamos mudou a forma como as pessoas veem a música eletrônica não só em Florianópolis como no Sul do Brasil. É gratificante ver que outras festas que surgiram depois da BATEU seguiram um plano de negócios semelhante. Um exemplo disso, e que nos deixa muito felizes, é ver que outros produtores passaram a usar políticas de inclusão em suas festas, algo quase inimaginável quando começamos.

No momento em que decidimos criar o projeto, nos utilizamos de muitas referências de outras festas que frequentamos pelo Brasil e pelo mundo, cada uma com sua peculiaridade. De tudo que vimos e vivenciamos, procuramos colocar em prática o que julgamos ser de melhor e é importante honrar as fontes que nos inspiraram, sem deixar de continuar inovando. Com isso nós criamos uma cultura diferente, antes inexistente na Ilha, e que esperamos que perdure por muito tempo através de outros projetos.

Imagem de divulgação da edição Bateu a Intervenção Histérica –  Lara Albrecht

Quais foram as festas mais legais, na opinião de vocês?

São tantas né? No total foram quase 40 edições nesses sete anos. Cada vez que pensamos em nossa história lembramos de momentos diferentes. A Sinestesia Vermelha no antigo Jonas, O Calor Libidinoso no Rancho, O Maiô Delirante no Deca. Algumas em parceria com outros projetos, como as que fizemos em São Paulo e Curitiba.

Agora, uma festa que podemos dizer que será completamente inesquecível foi o bloco da BATEU no carnaval de 2020. Um público de mais de 1.500 pessoas, dançando ao ar livre e de graça. O sorriso estampado no rosto de tanta gente é algo que não tem preço e ficará marcado para sempre em nossa memória.

Falem mais sobre essa despedida e o que vai ter de mais legal nessa última edição?

O que mais queremos é fazer uma festa entre amigos, tanto com os que trabalharam na BATEU, como com quem frequentou por tantas vezes nossas pistas. Para essa edição convidamos os artistas que estiveram com a gente nesses anos e que representam nossas ideias, nossa sonoridade e nossa cultura. Uma festa para ficar eternizada no coração de todos como o encerramento perfeito para um ciclo tão bonito, de respeito, de amizade e de amor à música eletrônica e às pessoas.

Gostaríamos que ficasse marcado esse momento de despedida como um grande agradecimento a todos que estiveram ao nosso lado durante todos esses anos.

Line up: Tizol, LUWP, Noizzed, Celestia, Le Calve, Rafa Moura, Kosmo e performance por Yoko_Mizú.

Mais informações: @bateu.xyz
Ainda há ingressos pelo Shotgun

Foto em destaque: Kinderman Fotografias